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Desta vez, Lula foi rápido no gatilho: tirou o corpo fora, saiu da reta e dedurou o PT, precisamente o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini, como o responsável pela lambança – que tira o seu sono com a ameaça de não emplacar a reeleição no primeiro turno –- da operação azarada da compra do dossiê que envolveria o candidato tucano, José Serra, ao governo de São Paulo.

Não é a primeira vez que o PT é pendurado na forca, enquanto o candidato-presidente escapa por baixo do pano, distribuindo cacetadas a torto e a direito. No escândalo do mensalão e do caixa 2, que abriu a temporada interminável, o papel de vilão foi repassado ao PT.

Agora, as coisas estão mais complicadas. A começar pelo momento caipora, às vésperas da eleição e com as pesquisas apontando para o bis do mandato. Entende-se o desespero do candidato, inseguro e inquieto com o risco de um mano a mano, em um mês de vale-tudo, com os temíveis debates que refugou com as desculpas de sempre, no caso, compreensíveis e procedentes.

Lula pecou pelo exagero e a afobação. Como vem fugindo da imprensa, desqualificada como adversária leviana e sem ética, aproveitou a entrevista a emissoras de rádio para responsabilizar o presidente do partido, Berzoini – substituto de José Genoíno, defenestrado pelo envolvimento no mensalão –, punido com um pontapé na parte mais acolchoada do corpo humano. A sentença fatal merece ser reproduzida na íntegra, inclusive com o enfeite da filosofia de boteco: "É assim que é a vida humana. Você escolhe um companheiro para determinada função. No caso do pessoal que cuidava da pseudo-inteligência da minha campanha, nem fui eu que escolhi. Quem escolheu foi o presidente do partido, que era o coordenador da campanha eleitoral".

O companheiro Berzoini, a última lápide no campo-santo petista, calou a boca e mandou o recado da escusa óbvia: não é responsável pelas ações irregulares de assessores que contratou. Resumo do libreto: não há responsáveis no PT nem no governo.

No desconfortável qüiproquó, Lula arranjou um jeito de jogar cascalho no telhado trincado do vizinho. No embalo, quando espanca o "bando de aloprados" que resolveu comprar o dossiê, divide as culpas com os que ofereceram à venda o papelório. Tenta virar o jogo: "Não quero saber apenas de onde vem o dinheiro. Quero saber o conteúdo que levou essas pessoas a cometer essa barbaridade".

Reconheça-se, uma boa pergunta. Mas, o candidato-presidente que não sabe de nada, e nada vê, pelo menos está devidamente informado que o golpe do dossiê é, até aqui, um didático exemplo das trapalhadas da quadrilha petista que enodoa a legenda. A curiosidade da opinião pública reclama a urgentíssima conclusão da fase preliminar da apuração da trama de marginais, inclusive com a indispensável identificação das fontes que inundaram os companheiros com a fortuna de 1,7 milhão de dólares e reais para a compra do ainda desconhecido dossiê. E estranha as alegadas dificuldades da Polícia Federal no rastreamento da dinheirama e a previsão de que só depois das eleições saberemos a sua origem.

Ora, o candidato-presidente pode oferecer uma ajuda preciosa ao esforço da PF. Como chefe supremo, fundador e benemérito do PT, não custaria dedicar alguns minutos subtraídos da campanha para a investigação pessoal para inquirir a turma da casa. Pois, este é um caso do PT. Denunciados, envolvidos, suspeitos, tudo é gente do Planalto.

A rodada, para obedecer a hierarquia, deve começar pelo amuado companheiro Berzoini, expelido da função de articulador da campanha, mas mantido no comando do PT. Na ante-sala, esperando a vez, o seu assessor de confiança há 17 anos, despejado da sala vizinha do seu gabinete, o Freud Godoy, intermediário da malograda transação. Na fila, o churrasqueiro de fama, chefe do desmontado núcleo de informação e inteligência, Jorge Lorenzetti. E o grupo de fé de Berzoini: Osvaldo Bargas, marido da secretária particular de Lula, Mônica Zerbinato, que, em dupla com Lorenzetti, ofereceu o dossiê. à revista "IstoÉ". O duo Gedimar Pereira Passos–Valdebran Carlos Padilha, preso no Hotel Íbis, em São Paulo, com a mala do 1,7 milhão em reais e dólares, tem muito a contar. Convém não esquecer de convidar o Expedito Afonso Veloso, diretor de Gestão e Risco do Banco do Brasil, diligente voluntário para os acertos com Luiz Vedoin, chefe da máfia dos Sanguessugas, para a compra do dossiê. Além de outros, não esquecer do Hamílton Lacerda, coordenador da campanha do companheiro Aloízio Mercadante, malogrado candidato do PT ao governo de São Paulo, emissário junto à mesma revista para cavar a publicação da muamba.

A ocasião seria perfeita para o candidato deslindar o caso do dossiê e do seu misterioso anexo de duas mil páginas. E o envolvimento do então ministro da Saúde, José Serra, no governo do seu odiado inimigo e antecessor, FHC, no caso das ambulâncias superfaturadas.

O PT e o governo carregam tantos escândalos que aliviariam a carga se dividissem pelo menos um com os tucanos. E a campanha ganharia outro colorido nesta semana decisiva.

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