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Lula e as 200 caixas de Pandora

Lula é aquele, que, “sendo homem, assaca outro homem a sua sorte, é desprovido de senso, pois quem julga ser mais bem sucedido ou pensa que tem mais ventura não sabe se ela subsistirá até ao anoitecer”, como definiu Werner Jaeger, ao comentar a Oração da Coroa, de Demóstenes.

Em 11 de janeiro de 2002 foi editado o Decreto 4.081, que instituiu no Brasil o Código de Conduta Ética dos Agentes Públicos em exercício na Presidência e Vice Presidência da República, que em seu artigo 10 diz o seguinte: “É vedado ao agente público (...) § 1.º Não se consideram presentes, para os fins deste artigo, os brindes que: I – Não tenham valor comercial; ou II – sejam distribuídos de forma generalizada por entidades de qualquer natureza a título de cortesia, propaganda, divulgação habitual ou por ocasião de eventos especiais ou datas comemorativas, desde que não ultrapassem o valor de R$100,00 (cem reais)”. Assim, as famosas caixas – cerca de 200 ou mais – não poderiam ser retiradas do Palácio do Planalto, pois o seu conteúdo pertence à nação brasileira e deveria ser incorporado ao Patrimônio da Presidência da República, ou destinados a qualquer entidade filantrópica.

E por que o título deste artigo? É que Pandora, na Grécia antiga, é aquela que dá toda espécie de presentes, daí o epíteto “caixa de Pandora”.

Lula viu-se como o herói que podia burlar regras e leis no exercício do cargo que deixava de exercer

As caixas retiradas do palácio teriam de ser abertas e conferidas, com relação que deve ter sido anotada pela mordomia do Palácio, para verificação de seu conteúdo. Lula deve isto à nação. A transportadora (ou transportadoras) que recebeu cerca de R$ 500 mil teria de ter relação do conteúdo das caixas. Daí porque as caixas de Pandora terem sido surrupiadas do palácio presidencial, ou da granja em que vivia e na qual promovia festas juninas, noticiadas à época com fotos em que Lula desmerecia o cargo que ocupava.

Fala-se em 37 caixas de vinho, e bebidas em geral, mas fala-se também que Lula encomendava vinhos às embaixadas do Brasil em Paris, Lisboa, Madri e Roma. E provavelmente as caixas de bebidas devem estar nas caixas de “presentes”. O Itamaraty deveria se manifestar a respeito.

Em São Paulo, um governador, ao assumir o posto, exigiu de seu antecessor os bens, alguns dos quais históricos, que haviam sido retirados do palácio na mudança. Como houve a recusa, procedeu-se a um inquérito, posteriormente arquivado, pois o antecessor enviou de volta a carga ao Palácio dos Bandeirantes – em suma, devolveu os bens que não lhe pertenciam, pois que os presentes recebidos no exercício do cargo pertencem à nação, e não a quem está no cargo, como agente público. Esta distinção o ex-presidente decerto não conheceu. Viu-se como o herói que podia burlar regras e leis no exercício do cargo que deixava de exercer, e que agora revive sua tragédia em retrospectiva.

Vê o destino confuso que havia de ser a sua herança desde o tempo mesmo de sua entrada em cena. Vê o poder inexorável do passado que tornou impossível passar a vida como um estadista. A prosopopeia termina com uma palavra chave: desastre majestoso.

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