Lula, Dilma e a tropa petista ficaram escandalizados com a decisão do juiz Sergio Moro de suspender o sigilo dos autos da 24.ª fase da Lava Jato. Eriçaram-se especialmente com a divulgação dos grampos que captaram conversas telefônicas de Lula durante 27 dias. O caudilho e sua criatura, desesperados, vociferaram contra o secundário para tentar fugir do essencial: a presidente da República cometeu crime de obstrução da Justiça, dando à Câmara motivos mais que suficientes para avançar no impeachment. É disso que se trata.

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O governo tenta desviar o foco do principal, que é de grande relevância: o crime de obstrução da Justiça praticado pela presidente da República. A divulgação do diálogo entre Lula e Dilma evidencia que o intuito da nomeação de Lula para a Casa Civil foi blindá-lo do pedido de prisão preventiva que seria examinado pelo juiz. Moro tinha o dever de tomar a providência. Se não o fizesse, seria inclusive caso de prevaricação.

Lula, despido das lantejoulas de João Santana, é torpe e indigno

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O que se ouve nos diálogos de Lula mostra a recorrente intenção de cometer ilegalidades e de usar o Estado em seu proveito e proteção. “Era preciso você chamar o responsável e falar ‘que porra é esta?’”, ordenou Lula ao ministro da Fazenda, se referindo à Receita Federal. O ex-presidente havia sugerido ao ministro acompanhar o que a Receita fazia junto com a Polícia Federal, avisando que o Instituto Lula mandaria para ele as informações sobre a atuação dos fiscais. O ministro diz: “conta com a gente para o que der e vier”. Que apoio o ministro oferece ao ex-presidente? Lula continua: “Você precisa se inteirar do que eles estão fazendo no Instituto”. O ministro comenta que “eles fazem parte”. Quer dizer que a Receita integra a Operação Lava Jato.

Lula diz que “se eles fizessem isso com meia dúzia de grandes empresas resolvia a arrecadação do Estado”. Diante dessa proposta de uso da Receita, o ministro diz “uhum”. Depois de mandar que o ministro chame o responsável para admoestá-lo com palavrões, ele dá a lista dos que gostaria que fossem alvos: “a Globo, o Instituto Fernando Henrique, SBT, Record”, e solta outros palavrões. O ministro, em resposta, pede que Paulo Okamotto envie para ele os papéis do Instituto. Lula reclama que uma investigação contra a Veja está parada desde 2008. E manda outro palavrão aos agentes da Receita Federal. O ministro disse que mandou apurar a razão de haver “velocidade diferente” de investigação.

Ao contrário do que Lula costuma apregoar, nada no diálogo é republicano. É uma tentativa clara de uso e controle da Receita Federal.

Enlouquecidos com o poder, Lula e os companheiros se mostram nos grampos em toda a sua feiúra moral. Debochados, grossos, cínicos, preconceituosos, arrogantes. Os melhores trechos são aqueles em que Lula e seus seguidores revelam o que eles têm por dentro: mentira e hipocrisia.

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Numa conversa com a presidente da República, por exemplo, Lula se queixa da imprensa e da Lava Jato. Reclama da falta de reação: “Nós temos uma suprema corte totalmente acovardada, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um parlamento totalmente acovardado. Somente nos últimos tempos é que o PT e o PCdoB começaram a acordar e começaram a brigar. Nós temos um presidente da Câmara fodido, um presidente do Senado fodido. Não sei quantos parlamentares ameaçados. E fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e vai todo mundo se salvar. Sinceramente, eu tô assustado com a República de Curitiba”. Na imagem produzida pelo marketing petista, o governo apoia as investigações e a independência do Judiciário. No escurinho do celular, Lula quer esculhambar as instituições e acabar com a Lava Jato.

O juiz Sergio Moro atendeu ao princípio da publicidade ao retirar o sigilo da gravação, já que o interesse público justifica claramente sua divulgação. Não houve invasão da privacidade do ex-presidente. A informação era um dever. É uma clara questão de interesse público. Os grampos rasgaram a embalagem e mostraram o produto. Lula, despido das lantejoulas de João Santana, é torpe e indigno. Um triste capítulo da nossa história.

Carlos Alberto Di Franco é jornalista.