• Carregando...

Cláudio Moura Castro esteve em Curitiba participando do Programa "Lideranças Empresariais na Política" patrocinado pela Unindus, Universidade da Indústria da Fiep, que está trazendo, mensalmente, o que há de melhor na inteligência brasileira para discutir os temas centrais do país com empresários, professores e estudantes de pós-graduação. Obviamente tratou do cenário educacional, científico e tecnológico brasileiros, a respeito dos quais tem idéias cristalinamente simples e brilhantes.

O Brasil precisa de uma reforma universitária? Sim, mas essa reforma consiste em colocar todo o esforço no ensino fundamental e no ensino médio. Melhore-se a qualificação dos alunos para entrar na universidade e a universidade deixará de ter de ensinar no terceiro grau aquilo que o sistema educacional não ensinou nos dois primeiros. Por que a educação universitária é ruim, mas a pós-graduação brasileira é de altíssima qualidade? Porque há muitos anos, desde os primeiros programas das Fundações Ford e Rockefeller Foundation e depois da Usaid (a mesma Usaid do Acordo MEC-Usaid que as esquerdas brasileiras detestavam sem que a maior parte dos críticos tenha chegado a menos de um quilômetro do seu texto – a suposição é minha), o critério único, imperioso, insubstituível adotado nas decisões técnicas foi o do mérito. E assim, milhares de estudantes brasileiros mais promissores tiveram a oportunidade de estudar no exterior, e centenas de professores estrangeiros lecionaram no Brasil, desbravando a selva do atraso beletrista e bizantino e abrindo picadas para o sol entrar na ciência e tecnologia do país. Hoje, dos 12 produtos mais importantes na pauta de exportação, dez têm parcela importante de tecnologia brasileira embutida. E o país é o 17.º em produção científica publicada – em 1950, tirava zero nesse quesito.

Quotas para os egressos da escola pública? É justo, pensa ele, que aqueles que tiveram suas perspectivas de progresso intelectual limitadas por um ensino público medíocre recebam algum tipo de compensação. Mas, de novo, essa compensação deve estar atrelada ao mérito como fez a Universidade de Santa Maria que – para aumentar o contingente de alunos de escolas públicas na instituição – desenvolve um grande programa de aproximação com o ensino fundamental e médio da região para qualificar melhor os candidatos ao exame vestibular Mas este é único, indiferenciado para todos. Resultado: dois terços dos alunos da Universidade Federal de Santa Maria provêm das escolas públicas e ingressaram pela mesma porta da frente que os que tiveram a oportunidade de uma boa escola fundamental desde o maternal e o prezinho...

É evidente que esse tipo de pensamento direto e sem rebuços não está livre de contestações e de preconceitos. Seria uma abordagem simplista, que não leva em conta o professor e o aluno "enquanto" cidadãos (ah, que saudades do Freitas Neto com sua visceral antipatia por esses tiques de linguagem...), que dá pouco valor para a "dimensão política" do processo educacional, e por aí afora. Mas existe uma diferença fundamental entre o pensamento de algumas pessoas como Cláudio Moura Castro (entre cujos seguidores modestamente me alinho) e o pensamento de seus críticos. É que esses últimos, via de regra, são exuberantemente verbosos para descrever as distorções políticas e epistemológicas de nosso processo educacional, loquazes para analisar suas deficiências mas pouco capazes de responder a uma pergunta simples: então, o que seria, em português claro, uma boa escola? Que deveria ela ensinar e como? Como deve ela ser avaliada? Que é o ensino eficaz? Quais são os investimentos prioritários a fazer?

Cláudio propõe respostas para todas essas questões e a resposta passa sempre por alguns filtros: qualidade do professor e da escola, rigor acadêmico na avaliação do processo educacional, dos alunos e dos professores, premiação do talento e valorização da produção intelectual e prática, tratamento diferenciado dos diferentemente capazes, combate sem tréguas à mediocridade pomposa. Investimento, mais investimento em bibliotecas, no aluno, no professor do ensino fundamental e médio. Coragem para enfrentar o corporativismo rançoso que domina amplas áreas do pensamento educacional brasileiro, para mudar, "quebrar paradigmas" como está na moda falar a respeito de tudo.

Para fechar com chave de ouro, Cláudio deu um educado recado aos empresários presentes ao responder a uma pergunta sobre o tipo de contribuição que o empresariado deveria dar à educação brasileira. Disse ele mais ou menos isso: "Quando eu trabalhava no Ipea, via caravanas e caravanas de empresários no gabinete do ministro da Fazenda cada vez que o governo fazia alguma coisa que afetasse seus interesses. No Ministério da Educação, nunca vi nenhuma caravana de empresários para lutar por uma educação de maior qualidade. Por que será?". Simples, não é?

PS: Em 4 de julho, Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Argentina será o palestrante do Programa da Unindus. Imperdível também.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do mestrado em Organizações da UniFAE.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]