Tive a alegria de encontrar grandes mestres ao longo de minha vida como estudante. Extraindo o denominador comum, percebo que eles pautam suas práticas pedagógicas em valores morais elevados e no conhecimento acadêmico de qualidade.
Infelizmente, nossa sociedade está moralmente doente, e alguns professores distanciados desses dois elementos fundamentais. Como consequência, a educação agoniza e precisa ser socorrida com urgência.
Deixamos, lá atrás, de debater e de nos rebelarmos contra o desarmamento intelectual da sociedade.
Claro que a vida não é um mar de rosas, mas há muito tempo os espinhos superam as flores, e as ervas daninhas crescem sem pudor no espaço escolar, de onde precisam ser extirpadas, urgentemente, por corajosos jardineiros. Olhar o retrato da educação tão desbotado em relação ao que foi um dia deixa-me penalizada pelas crianças e jovens do nosso país.
É senso comum que a qualidade da educação está longe do ideal, mas somente quem trabalha na área educacional sabe que, ao levantarmos as cortinas desse grande palco onde a educação brasileira é encenada, revelam-se bastidores sombrios.
A verdadeira independência é conquistada via educação, e o conhecimento é a mais poderosa arma na defesa dos sonhos e da liberdade. O debate sobre a retirada de armas de fogo da sociedade está em voga, mas deixamos, lá atrás, de debater e de nos rebelarmos contra o desarmamento intelectual da sociedade. Este aconteceu em silêncio, de forma sutil.
O fracasso da educação é resultado de um longo processo em que esta foi, deliberadamente, afastada do seu verdadeiro objetivo, que é o engrandecimento cultural e moral, transformando-a em meio de controle social. E quem são os algozes da educação? Com certeza não são aqueles grandes professores que conheci.
Infelizmente, eles ainda estão em número insuficiente para mudar a história no curto prazo e acabam por ficar destroçados, cansados de lutar contra um sistema covarde. Ao longo do caminho, tenho visto pedaços de professores, exaustos a perambular por corredores e salas de aulas de escolas e universidades.
Muito se fala da necessidade de reformulação do currículo acadêmico docente, mas estou convicta de que o maior problema da educação é moral. É inerente ao ser humano querer alçar voos altos em suas vidas e realizar seus sonhos. Sempre que penso nisso, me vem à mente a imagem do Condor. O pássaro simboliza a força, a inteligência e o poder. Com suas longas asas, ele consegue voar bem alto, livremente, pelas cordilheiras andinas. Das alturas ele vê tudo. Não há barreiras para ele. Bastam duas asas.
Transportando essa metáfora para o homem, ele precisa, simbolicamente, das asas da instrução e da moral. Em relação à primeira, o Brasil vai de mal a pior. Que o digam os resultados do PISA. Mas quanto a esse problema, o estudo e o conhecimento resolveriam. É a pouca atenção em desenvolver a segunda asa que tem ferido de morte a educação.
Muitos professores parecem ignorar sua missão. A educação atualmente ministrada não prepara para as lutas da existência humana, e como resultado, vemos o crescimento do número de suicídios entre jovens e crianças, e a anarquia social, numa sociedade cada vez mais decadente. Intenções obscuras são mascaradas de valores nobres. Homens de retórica ardilosa confundem mentes e agitam corações, desencadeando instintos violentos na sociedade.
Nos meios acadêmicos imperam os ensinamentos das doutrinas de Haeckel, Marx, Hegel, da Escola de Frankfurt dentre outros, cujas contribuições para a reflexão são inquestionáveis, mas que exerceram (e ainda exercem) influência negativa na alma humana, provocando uma crescente irritação nas classes sociais. Sem promoverem o equilíbrio social, essas doutrinas negativas excitaram as paixões e os maus instintos das massas, afastando de si a responsabilidade das consequências nocivas.
O socialismo por elas defendido, com um discurso que parece promover a igualdade entre os homens, tem a pretensão de impor uma regra que vai de encontro à verdadeira lei da humanidade: a evolução gradual e individual do ser humano pelo esforço próprio e por mérito. O socialismo ignora essa lei fundamental da natureza individual, mas tem a pretensão de orientar o homem social, e termina por substituir a opressão do passado por um autoritarismo novo e injusto.
Não há dúvidas de que a formação do professor precisa ser repensada, mas faz-se mister despertar a consciência humana, adormecida na retórica funesta da dialética da negatividade que dominou a Academia.
A questão é complexa, o caminho é árduo, mas não impossível. Tenho a certeza de que um dia as ervas daninhas serão extirpadas do jardim da educação. Até lá, o seguinte pensamento do escritor francês León Denis ficará mais no papel do que na prática: “Orientar as vontades; temperar os caracteres para o combate da vida; desenvolver a força da resistência; afastar da alma da criança tudo o que pode enfraquecê-la; elevar o ideal a um nível superior de força e de grandeza: eis o que a educação moderna deveria adotar por objetivo”.
Denise Nazareth é economista, professora, graduada em letras pela Universidade Veiga de Almeida (RJ), especialista em Literatura Brasileira e mestre em letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e doutoranda em letras pela Uerj.
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