A associação entre economia e felicidade geralmente não é feita quando pensamos nessa área de estudo, mas um dos principais objetivos das ciências econômicas é estudar como as pessoas obtêm felicidade através das relações de mercado. No nosso jargão, utilizamos a expressão "utilidade do indivíduo".
Os pesquisadores dessa área fazem uma hipótese de que, caso as demais variáveis permaneçam constantes (condições de trabalho, tempo de lazer etc.), maior será o nível de utilidade ou felicidade de um indivíduo conforme sua renda e, consequentemente, seu consumo aumenta.
Essa hipótese parece razoável e fornece a base de uma grande parte dos estudos acadêmicos em economia. Por isso, boa parte desses pesquisadores se debruça sobre os estudos das variáveis relevantes que explicam o crescimento da renda per capita. Pela ótica de cada indivíduo, cada um também parece, em geral, preocupado com a elevação da renda para a obtenção de um maior nível de felicidade.
No entanto, podemos fazer, ao menos, duas críticas a essa hipótese. Primeiramente, a cláusula "tudo o mais constante" não é válida. Por exemplo, a elevação da renda de uma pessoa vem acompanhada de mudanças na quantidade de trabalho, estudo, responsabilidade, preocupações, etc. Outra possibilidade é que um maior nível de renda muda as preferências das pessoas. Por exemplo, indivíduos mais ricos almejam elevações adicionais da renda para alcançar, por exemplo, maior status. A busca por esse tipo de satisfação não traz, necessariamente, maior felicidade. Ou seja, a segunda crítica é que uma elevação da renda não traz, após certo patamar, mais felicidade.
É claro que para famílias e pessoas com níveis de renda baixos, faz diferença melhora salarial. Precisamos de renda para alimentação, vestuário, saúde, educação, segurança, conforto, lazer, etc. No entanto, após certo nível, seus benefícios não são tão óbvios. Uma pesquisa realizada por Angus Deaton e Daniel Kahneman ambos da universidade de Princeton, sendo o último ganhador do Prêmio Nobel em Economia em 2002 , com 450 mil americanos entre 2008 e 2009, aponta que a renda afeta a felicidade das pessoas até o patamar de US$ 75 mil anuais, ou cerca de US$ 6 mil mensais. Considerando que o custo de vida é maior nos Estados Unidos em relação ao Brasil, esse nível de renda não chega a classificar uma pessoa como sendo rica.
Considerando que a renda per capita média dos EUA está em torno de US$ 46 mil, não é preciso nem dobrar a renda per capita daquele país para que mais dinheiro deixe de trazer felicidade, supondo que todos recebam exatamente a mesma quantia. Assim, o problema não está no aumento da renda, mas sim na forma de melhorar sua distribuição, pelo menos para os países desenvolvidos.
Os autores encontram ainda que o fator que está mais fortemente relacionado à felicidade (mesmo que a renda) é possuir uma vida religiosa. Segundo os pesquisadores, as igrejas e centros religiosos oferecem convívio social, além das pessoas religiosas se sentirem mais confortáveis com problemas que aparecem durante a vida e com a ansiedade da morte. O terceiro fator mais relevante, por mais surpreendente que possa parecer, é o envelhecimento. Segundo os autores, pessoas mais velhas aprendem a lidar melhor com as dificuldades da vida.
Não podemos esquecer que a elevação da renda também provoca problemas ambientais graves comprometendo até mesmo a sustentabilidade da vida na Terra. Apesar da renda ainda ser uma questão relevante no bem-estar dos indivíduos, principalmente nos países em desenvolvimento, os pesquisadores de economia precisam se preocupar cada vez mais com o problema da distribuição de renda, da sustentabilidade do crescimento e com os elementos que, de fato, trazem maior utilidade e felicidade às pessoas.
Luciano Nakabashi, doutor em economia, é professor do Departamento de Economia da UFPR e pesquisador do CNPQ. E-mail:luciano.nakabashi@gmail.com.
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