Iniciamos o ano de forma atípica, mas com expectativas renovadas. O processo de vacinação está ocorrendo em vários países, restaurando as esperanças da volta à normalidade ao longo de 2021, com reflexos positivos na sanidade mental das pessoas e na economia dos países.
Não tenho dúvidas que os países que mais irão se beneficiar de forma social e econômica com o processo de vacinação serão aqueles com sucesso em realizar ampla cobertura em um curto espaço de tempo. Como já enfatizado por vários analistas, a melhor política econômica atual é a imunização ampla da população.
Infelizmente, presenciamos uma ampla desorganização, sobretudo do governo federal, no processo de planejamento da fabricação, compra e distribuição das vacinas. O preço será elevado tanto em termos sociais quanto econômicos, como já estamos presenciando.
Do lado externo, temos boas perspectivas decorrentes de um processo amplo de vacinação em importantes economias, como a norte-americana, as europeias e asiáticas. Já percebemos sinais de retomada econômica e melhora das expectativas em algumas das economias mais importantes, o que deve manter um bom cenário para o nosso setor exportador.
Apesar do elevado endividamento público em vários países avançados, os juros permanecem baixos com tendência de manutenção nesses patamares por um longo período, o que mantém a relação dívida/PIB controlada. No caso do Brasil, a elevação dessa relação é mais preocupante, pois, apesar de os juros estarem em patamares historicamente baixos, a tendência é de elevação ao longo de 2021 e nos próximos anos.
A pressão inflacionária e o aumento da incerteza decorrente da fragilidade fiscal e econômica mostram que não há muito o que fazer para escapar de um processo de aumento dos juros, o que irá deteriorar ainda mais as contas públicas pelo maior pagamento dos juros e enfraquecer a demanda de uma economia que já se encontra debilitada.
A manutenção de um processo de reformas estruturais que ajudasse no controle da dívida pública e estimulasse a eficiência da economia brasileira poderia reduzir a velocidade do aumento dos juros, além de criar as condições para um crescimento sustentável. No entanto, um governo federal que cada vez mais flerta com políticas populistas, com a janela de oportunidades para reformas se fechando cada vez mais devido às alterações nas correlações de forças políticas e à aproximação das eleições presidenciais e estaduais, mostra que a possível melhora só ocorrerá a partir de 2023.
Não podemos mais “empurrar com a barriga” os problemas estruturais que temos em nosso país e que ficam cada vez mais evidentes em um momento crítico como o atual. O desemprego está nas alturas, a renda das famílias em queda, além das expectativas de crescimento econômico que estão mais pessimistas. A população tem pressa e necessidades a serem satisfeitas. Um novo auxílio emergencial é fundamental, mas apenas alivia uma situação de forma momentânea; as questões estruturais são deixadas de lado, levando à manutenção, ou até piora, da situação de muitas famílias que ficam presas em armadilhas de pobreza.
Apesar do alívio que vem de fora, o cenário é bem mais sombrio ao olhar os problemas urgentes internos que precisam ser resolvidos sem expectativas de mudança importantes nos próximos dois anos. Mais um ano difícil pela frente!
Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor associado da FEARP/USP e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia da FEARP/USP.
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