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Estamos vivendo um momento único no mundo econômico em que a maioria de serviços mais usados "não custa quase nada". Quanto você paga pelo serviço de mensagens que usa como sistema de comunicação? Quanto paga para escutar ou ver os clipes das suas músicas preferidas? Se a resposta é pouco ou nada, bem-vindo ao mundo do 0800!

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Aqui a explicação: a maioria de empresas que presta esses serviços não tem lucro e, a priori, não se importa com isso. O que interessa para elas é conquistar mercados. Assim como no jogo War, estamos no mundo de conquistas de territórios, reconfigurando o que conhecíamos por economia. A maior parte do nosso consumo é baseada em serviços. Bancos, educação, comida, e-commerce, transporte, entretenimento; quase tudo o que consumimos é serviço.

Devemos fazer mais do que fazíamos anteriormente, quando os mercados eram definidos e delimitados claramente por empresas tradicionais

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Nesse contexto, os balanços de empresas como Uber, Spotify e Netflix não são uma prova de lucro vivo. O serviço de músicas por streaming Spotify divulgou seus resultados financeiros referentes ao segundo trimestre de 2019. O prejuízo líquido foi de 76 milhões de euros; 80% menor se comparado ao mesmo período de 2018 (394 milhões de euros), mas ainda é prejuízo. A Uber, empresa de transporte, reportou um prejuízo de US$ 1 bilhão no primeiro trimestre desse ano. A Netflix, serviço de streaming de televisão, teve, em 2018, um prejuízo de US$ 3 bilhões.

Apesar de todos esses prejuízos, esse tipo de empresas oferece serviços gratuitos ou pagos com mensalidades baixas que, quando contabilizadas na receita, não cobrem seus custos. Na literatura de gestão nova se diz que elas "sangram o caixa", o que significa que, independentemente dos seus resultados, elas gastam ou investem em longo prazo. Quem patrocina tudo isso são capitais e fundos de investimento que acreditam que, no futuro, essas empresas serão dominantes nos seus respectivos mercados. É uma grande aposta que somente o tempo dirá se foi boa.

É nesse mundo que as relações econômicas estão sendo pautadas, afetando, de alguma forma, pequenos empreendedores obrigados a oferecer seus produtos e serviços de "graça" ou "quase de graça". A maioria dessas empresas tem de praticar a estratégia de venda identificada como Freemium, em que uma parte do serviço é gratuito, mas o usuário tem de "pagar" ouvindo ou assistindo anúncios comerciais. Para quem não quiser nada disso, há o plano pago, que o livra de toda essa propaganda e dá direito a serviços mais personalizados. Por isso é denominado Freemium: uma parte é de graça (Free) e a outra parte é paga (Premium). Por exemplo, a maioria dos usuários do Spotify não paga nada. Portanto, se você é empreendedor e quiser emplacar seu produto ou serviço, terá de oferecê-lo de graça ou deverá contar com um patrocinador que acredite que, no futuro, sua empresa decolará e lhe renderá altos lucros.

Esse patrocínio é importante, até pelo menos passar pelo denominado "vale das trevas", aquele início de operações da empresa, quando a maioria de recursos é investida e não há receitas suficientes que sustentem esses dispêndios. A esperança de todo empreendedor é de que, um dia, seu produto/serviço passe desse "vale" e suas vendas se tornem exponenciais; mas, até lá, muitas empresas morrem.

O que fazer nesse cenário? Essa pergunta serve tanto para empreendedores como para profissionais. Que futuro nos depara? Como devemos vender ou investir? Só há uma certeza: devemos fazer mais do que fazíamos anteriormente, quando os mercados eram definidos e delimitados claramente por empresas tradicionais e detentoras dos seus domínios – como também era previsto no tabuleiro do jogo de War.

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Hugo Eduardo Meza Pinto é economista, doutor pela USP em Relações Internacionais, professor da Faculdade Estácio Curitiba e sócio fundador da Amauta.