As recentes manifestações que ocorreram no país mostram certa insatisfação da população brasileira com nossos governantes. Pela primeira vez desde a eleição do governo Dilma, a oposição sente que tem chances de vencer o governo atual nas eleições de 2014, mesmo considerando que as manifestações vão muito além de uma disputa entre situação e oposição.
O povo brasileiro está cansado de tanta corrupção, desigualdade de renda, serviços públicos precários, sensação de insegurança nas ruas, elevada carga tributária, ineficiência nos gastos públicos e elevação da inflação, além do estilo autoritário e inflexível da presidente. O estranho é pensar sobre as razões que levaram a população às ruas no momento atual, em que a economia apresentou uma significativa evolução em relação aos anos 80 e 90, além de presenciar sensível melhora na renda média e na sua distribuição, nos anos 2000.
A minha impressão é de que, depois de sentir a possibilidade de que o país entraria em uma rota segura de crescimento da renda e de desenvolvimento econômico (semelhante à sensação que a população brasileira presenciou nos anos 70), o enfraquecimento econômico e os sinais cada vez mais claros de que ele é resultante de problemas internos deixaram a população transtornada. Mais uma vez, somos apenas o país do futuro.
A contradição nas manifestações é que sempre existe uma demanda que pressiona os gastos públicos como, por exemplo, redução das tarifas e melhora dos sistemas de educação e saúde, além da segurança. No entanto, quase todas as sugestões de especialistas para que se possa colocar a economia novamente em uma rota de crescimento passam por reduções dos gastos do governo.
O governo precisa reduzir os seus gastos como proporção do PIB para: conter a inflação e reverter o novo ciclo de elevação dos juros, o que é essencial para estimular os investimentos; reduzir a dívida pública, o que também favorece os investimentos ao fortalecer os fundamentos econômicos; reduzir a carga tributária, favorecendo a poupança e investimento privados; elevar a poupança do governo, reativando a capacidade de investimentos em infraestrutura, educação e saúde; fazer frente às demandas futuras de elevação dos gastos previdenciários.
Desse modo, é preciso entender que o governo no Brasil já é muito grande e maiores demandas irão redundar em instabilidade econômica e redução do crescimento devido à elevação da dívida pública e da carga tributária futura, além de estimular a inflação pelo aumento da demanda e da pressão em se emitir moeda para fechar as contas públicas. Uma carga tributária mais elevada, com o excesso de burocracia existente, irá sufocar ainda mais o setor privado, gerar novas oportunidades de corrupção e reduzir a capacidade de crescimento no futuro.
Os jovens que estão saindo às ruas precisam se perguntar o que eles podem fazer por essa nação e não somente o que o país pode fazer por eles. Um dos pontos mais importantes para se focar é na educação, trabalho com determinação, além da busca de informações sobre as medidas necessárias para que o país possa encontrar uma rota de crescimento sustentável, com distribuição de renda e respeito aos menos favorecidos e ao meio ambiente.
Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da FEA-RP/USP.
Deixe sua opinião