"O Cerco da Lapa não foi essencial para a consolidação da República": essa foi a conclusão do professor e historiador Renato Mocellin, registrada em sua recém-lançada obra Maragatos e Pica-Paus e frisada em entrevista concedida à Gazeta do Povo em 17 de maio.
Como dito, essa foi a conclusão do professor, ou seja, a crença à qual chegou filtrando os fatos a partir de suas convicções e experiências de vida. A partir do exame dos mesmos fatos, diversos outros historiadores, tal como David Carneiro (o maior estudioso do tema), chegaram a conclusões diametralmente opostas.
Não caberiam nestas linhas todas as evidências que apontam para a importância da heroica resistência lapeana para a consolidação da República, mas em estreita síntese é possível dizer que, se as tropas de Gumercindo Saraiva tivessem chegado ao Rio de Janeiro, o destino da República seria, no mínimo, incerto.
Entretanto, o motivo do presente artigo não é rediscutir a história do Cerco da Lapa, mas sim colocar em debate a postura do povo paranaense representada pela conclusão do professor Mocellin.
Aproveitando a lembrança do embate travado entre maragatos e pica-paus, não é demais afirmar que um historiador gaúcho, por maior que fosse seu apego acadêmico, jamais interpretaria os fatos em desfavor da história de seu povo e de sua terra, tal como feito pelo historiador paranaense em sua última obra.
Esse exemplo vindo da literatura é apenas mais um reflexo do que acontece em diversos setores da sociedade paranaense, indo da política, seara na qual a desunião dos nossos senadores é notória e enfraquece o estado; até o futebol, em que amargamos ver um time paulista ter a maior torcida do Paraná.
Já é passado o tempo de aprendermos a cantar a nossa aldeia, de valorizarmos nossas conquistas e saudarmos nossos heróis. Essa é a base para a construção de uma identidade local, tão almejada por Alfredo Romário Martins, e depois por Ney Braga, com a idealização do Paranismo.
E nisso a Lapa é sem dúvida exemplo para o estado; lá valorizamos nossos heróis, como Gomes Carneiro e tantos outros, preservamos nosso patrimônio histórico, cantamos nosso hino e saudamos a memória de cada um dos personagens que nomeiam as ruas da cidade, desde os mais ilustres, como o Barão do Rio Branco, até os mais humildes, mas não menos importantes, como o popular soldado Bascuia.
Enfim, que o esforço dos paranaenses que resistiram heroicamente por 26 dias durante o cerco deixe como legado não apenas a consolidação da República, mas também o simbolismo necessário para a construção de uma legítima identidade paranaense.
Vinícius Bara Leoni Lacerda é diretor-executivo do Instituto Sérgio Leoni.
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