Há 80 anos, Getúlio Vargas lançou a “Marcha para o Oeste”. Naquela época, população e produção brasileiras estavam concentradas numa estreita faixa do litoral. Em poucas décadas, o país mudou sua distribuição demográfica e econômica, construiu uma geografia mais equilibrada. Hoje, estamos precisando da “Marcha para o conhecimento”.
Em 1937, a construção do futuro vinha da ocupação de territórios inexplorados; agora virá da formação dos cérebros dos brasileiros. A “Marcha para o Oeste” buscava aproveitar os hectares de terra relegados no interior, a “Marcha para o conhecimento” exige aproveitar cada cérebro brasileiro, oferecendo educação de qualidade.
Pode-se estimar que, ao longo dos 80 anos desde a “Marcha para o Oeste”, pelo menos dezenas de milhões de brasileiros morreram sem educação de base, parte deles sem ter aprendido a ler nem mesmo a própria bandeira. Por isso, a “Marcha para o conhecimento” vai exigir uma revolução na educação do Brasil.
A “Marcha para o conhecimento” exige aproveitar cada cérebro brasileiro, oferecendo educação de qualidade
Independentemente das características da economia ao longo desses 130 anos de República, é possível imaginar as terríveis consequências do abandono do “território cerebral” de nossa população. A pobreza, a concentração de renda, o desperdício, a corrupção, o atraso e a violência teriam sido evitados se o Brasil tivesse feito uma “Marcha para o conhecimento” paralelamente à “Marcha para o Oeste”.
Para ingressar no futuro, o Brasil precisa fazer sua “Marcha para o conhecimento”. No lugar de construir uma capital nova, abrir estradas, fazer hidrelétricas, dar subsídios e apoio técnico ao agronegócio, bastaria implantar um novo sistema educacional de base ao longo das próximas décadas.
Em menos tempo que o necessário para a “Marcha para o Oeste”, o Brasil entraria em um novo tempo de sua história: com produtividade, criatividade, inovação, menos desigualdade, menos corrupção, menos violência e mais participação política.
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A “Marcha para o conhecimento” exige ainda uma refundação da universidade para que ela se torne uma das melhores do mundo. E seja alavanca para o progresso do país, em vez de “escada social” para os alunos. Isso exigirá forte compromisso com o mérito e ligação com a inovação do pensamento em todas as áreas.
A universidade refundada deverá ser uma usina de ciência, tecnologia e inovação, em ligação direta com as necessidades do setor produtivo e social. Não haverá “Marcha para o conhecimento” se o setor empresarial brasileiro não se envolver com vigor, especialmente na criação de mercadorias inovadoras. Para isso, o setor de financiamento público deve priorizar empresas cujos produtos se situem no ramo de alta tecnologia.
Dos 3 milhões de brasileiros com 22 anos de idade quando se comemoram os 80 anos da “Marcha para o Oeste”, não mais que mil se tornarão cientistas internacionais – desses, metade será forçada a migrar. A terra improdutiva do Oeste pelo menos não morria nem migrava.