As estatísticas disponíveis permitem a confecção do diagnóstico de que a economia brasileira estaria, de maneira vagarosa, escapando de uma etapa de pronunciada contração da produção e dos negócios e ingressando num ciclo de estagnação dos níveis de atividade. Tal episódio deve ser interpretado como absolutamente normal em sistemas capitalistas que desprezaram a recuperação do investimento, por conta da ativação de matrizes políticas voltadas à perpetuação no poder e, o que é mais grave, à abdicação da tarefa de governar, mesmo ao preço da quebra do Estado.
Por essa ordem de raciocínio, é fácil perceber que empreitadas de retomada sustentada do crescimento exigirão esforços coletivos nada desprezíveis, concentrados em reparos das apreciáveis avarias provocadas pelo emprego, durante mais de um decênio, de estratégias macroeconômicas populistas. Foram incursões intervencionistas, focadas no imediatismo dos resultados eleitorais, amparadas em medidas de estímulo ao consumo desenfreado, lideradas por crédito abundante, porém caro; entrada de recursos externos, associada ao bônus global das commodities; e irresponsabilidade fiscal.
A utilização inadequada do arsenal econômico, meticulosamente planejada pelas autoridades, inclusive com maquiagens nas finanças públicas e radicalização da concessão de financiamentos subsidiados a grupos empresariais dirigidos por “amigos do rei e da rainha”, conhecidos como campeões nacionais (só se for de competição de quarta divisão), conseguiu êxito na produção de uma enorme crise de endividamento público e privado (consumidores e empresas).
O uso, durante mais de um decênio, de estratégias macroeconômicas populistas causou apreciáveis avarias
O desmanche da recessão, a superação da estagnação e o alcance de fases de recuperação da capacidade expansiva do país impõem a operação harmônica do organismo econômico, semelhante à ligação do motor e ao engate das marchas de um veículo, preferencialmente sem arranhões, descuidos com a embreagem e velocidade excessiva.
Para tanto é essencial engatar o controle da inflação, a diminuição dos juros incidentes sobre consumo, giro e investimentos e o reerguimento do mercado de trabalho. A despeito da ocorrência de frequentes engasgos na aceleração, enroscadas nas mudanças e insuficiente giro do motor, o uso dessas três marchas tem sido ao menos percebido.
As dificuldades aparecem nas tentativas de realização das outras trocas, dependentes de complexas amarrações políticas e da formulação de um projeto de longo prazo para a nação. Decerto, trata-se de objetivos inalcançáveis se forem perseguidos por meio de ações de um Executivo fraco e, o que é pior, refém do Legislativo mais corrupto da vida republicana.
Daí a importância da insistência na implantação das reformas institucionais para eliminar os riscos de falência do Estado, na desobstrução dos gargalos infraestruturais e na priorização dos segmentos portadores de fatores de vanguarda, notadamente educação, inovação e produtividade.
Leia também: Geração de empregos em marcha lenta (editorial de 9 de agosto de 2017)
Leia também: O controle da moeda (editorial de 15 de agosto de 2017)
É alentador constatar que a sociedade brasileira reúne trunfos para a concretização do complicado percurso. Mais que isso. Os agentes econômicos e sociais atuantes no país têm absoluta convicção de que, da porta para dentro das unidades econômicas, a tarefa consiste em aprimorar procedimentos de gestão, inovação, sustentabilidade e produtividade.
Em paralelo, da porta para fora, há de se buscar a consecução de propósitos já alcançados por nações que deram certo, especificamente as reformas (tributária, fiscal, financeira, patrimonial, previdenciária e do Judiciário), a revolução educacional e o choque de infraestrutura.