Em 2014, quando foi desencadeada a sétima fase da Operação Lava Jato, as investigações da Polícia Federal eram vistas como decisões judiciais, não políticas. No site oficial do PT, uma reportagem elogiava a sanção pela presidente Dilma Roussef da lei 12.846/2013 (a Lei Anticorrupção), que tornava possível a prisão de funcionários de alto escalão das grandes empreiteiras envolvidos em pagamentos de propinas a executivos da Petrobras. Menos de dez anos depois, o escândalo do petrolão foi minimizado e transformado em uma mancomunação dos EUA com juízes e procuradores.
É uma afirmação que deveria mexer com os brios do Sistema Judicial, mas não mexeu. Com exceção do Tio Sam – o culpado de sempre –, juízes e procuradores tiveram acesso a provas que vão além do vazamento de mensagens. E elas apontavam para um sistema de corrupção que, não por acaso, foi classificado como o maior da história do país.
Foi a corrosão do Judiciário e, principalmente, o entendimento movediço dos tribunais superiores que transformou o lavajatismo em ideologia malquista à direita e à esquerda, quando o correto seria classificá-la como uma operação investigatória e probatória bem-sucedida, apesar dos pesares. Quando a Lava Jato está prestes a ser enterrada de vez pelo STF, em monocratismos que suspendem as multas bilionárias de grupos empresariais corruptores, vem o deputado paulista Eduardo Suplicy, do PT, para desafinar o coro dos contentes.
O parlamentar acaba de bater à porta do grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, para obter informações sobre suposta “mesada” paga à sua ex-mulher, Marta Suplicy, no valor de R$ 200 mil. Marta se refiliou ao PT para compor a chapa de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa à prefeitura de São Paulo. E isso parece bom. O J&F viu suspenso, por decisão do Supremo, acordo de leniência assinado no valor de R$ 10,3 bilhões. E isso parece melhor ainda.
Suplicy, o Eduardo, obteve a informação de que Marta recebeu 15 parcelas de R$ 200 mil – no que resulta em R$ 3 milhões – durante o período em que fazia caixa de campanha para as eleições, na década passada. E quer tirar tudo a limpo. O petista foi casado com Marta por 35 anos e está separado dela há 23. Não parece ser o caso de um ressentimento tardio, até porque Marta já contraiu matrimônio outras duas vezes. Não, o motivo de Suplicy deve ser outro. Filiado ao PT desde priscas eras, ele enfrentou todas as turbulências do partido, sem abandonar o barco. Marta, ao contrário, rumou para o PMDB (hoje MDB).
Se não é a dor de cotovelo, talvez o deputado seja vítima do entendimento oscilante. O mesmo que fez o STF votar, um dia, na prisão em segunda instância, para em outro, renegá-la. Fiel à sua cartilha, Suplicy, aos 82 anos, está ensimesmado com a mudança de posição da ex-mulher. Vá lá se fincada em argumentos sólidos.
Em decisões judiciais cercadas de polêmica, repita-se, o Supremo está suspendendo acordos de leniência de empresas envolvidas nos escândalos do petrolão, mesmo quando o conjunto probatório se mostra irrefutável. O deputado, ao que parece, se recusa a acreditar que essa pendularidade de decisões possa ter beneficiado não apenas seu partido, a quem não recusa devoção, mas também sua ex-mulher, mãe de seus filhos.
Marta deixou o PT para se filiar ao (P)MDB, em 2015, afirmando que a legenda era protagonista do maior escândalo de corrupção no país. Volta ao partido depois de nove anos, sob as bênçãos de seu líder máximo. Suplicy, o Eduardo, ainda quer saber, familiarmente, o que faz do entendimento uma biruta de aeroporto. E, afinal, aquele dinheiro todo de Joesley e Wesley entrou na conta da neopetista?
Marcus Gomes, advogado e jornalista, possui MBA em Ciência Política e especialização em Direito de Família e Sucessões.
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