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 | Valter Campanato/Agência Brasil
| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O chuvisqueiro soteropolitano da sexta-feira, 5 de setembro de 2017, foi explicado por um satélite da Nasa como originado por um súbito despejo de lágrimas de Ruy Barbosa, Dorival Caymmi e Dona Canô. Pura vergonha para a Boa Terra das baianinhas queridas Bethania e Sangalo. Um dos espécimes mais safados de Pseudohomus brasiliensis subsp. hypercorruptio, o gorducho sacripanta do neo-PMDB (Partido Muito Devasso da Brasilidade) Geddel Vieira Lima foi flagrado com R$ 50 milhões e deixando, estupidamente, as próprias digitais em um dos sacos de seu repetido opróbio. Pseudo-homem de confiança da Presidência da República. Pior mesmo, só ministro que liberta outros “geddéis” para agradar as atividades da cônjuge. Meliantes outros do mesmo partido e do PT – Partido da Tramoia –, em tertúlia indecente com pecuaristas e subpetroleiros, já corrompem até o instituto da delação premiada e se articulam para tentar impor nódoas na reputação dos ínclitos Janot, Moro e Dallagnol, estes em sua mui bem-vinda cruzada anticorrupção que assola estes nossos sofridos Brasis.

E la nave va enquanto ela – ciente, inoperante para frear a escalada, mas sem nunca tem enfiado um único tostão do erário no bolso – acabou como cabra expiatória dos desmandos alheios. A adaptação de gênero não tem aqui qualquer viés ofensivo. Venero as mulheres por conta de sua supremacia biológica. E os bodes megaturbinados do tipo Ali Babá e seus 400 ladrões vão sendo libertados das celas penitenciárias enquanto a população mais esclarecida espera o flash do comandante-mor adentrando seu novo aposento na Papuda – bem menos aconchegante que o sítio em Atibia ou tríplex no Guarujá. Miudezas perto do resto amealhado para si e/ou seus litisconsortes de assalto por mais de uma década. Elite empresarial nacional incluída neste grupo carente de caráter.

Tem também bala de prata para o tucano mutante, que – envergonhando o virtuoso avô, presidente da República por um mero par de dias – criou, como presidente da câmara de deputados (em minúsculas!), a sinecura para milhares de “funcionários” do Congresso com a desculpa esfarrapada de “verba de gabinete”. Mineiro esperto e refinado, pede “empréstimo” de R$ 2 milhões para noveau riches goianos que o atendem sem nenhum mugido. Um tucano mutante que preda muito mais que palmeiras e ninhos de aves menores. A PGR e a PF o cercam. O STF suspende-lhe o mandato de senador. A câmara(dagem) parlamentar cumpliciada o inocenta. O STF suspende de novo. O PSDB (Partido Sem Devoção Brasileira) também tem suas chagas políticas.

Nas gavetas, malas, similares e congêneres caribenhos ou suíços estão as provas que permitem um veredito final

O dinheiro (fácil, desonesto, impune) e o poder seguem sendo o único lenitivo para a sexualidade frustrada desses patifes políticos. E o molusco-mor terrestre, “pai dos pobres” desta pátria depauperada, persiste solto e boquirroto debalde os esforços do (agora ex-)delegado Janot e xerife Moro. Sei não. O italiano Palocci teatralizou de vez – mas sem colocar sobre a mesa de depoimento nem uma única prova sequer – para subtrair o próprio da reta, mas seu desempenho foi inferior ao do ex-patrão e/ou sócio ante as câmaras, e suas sofríveis negativas, proferidas em verborragia histérica. Qualquer pobre deste país sabe que posse de propriedade se prova com matrícula expedida por cartório de imóveis. Onde estão as do sítio de Atibaia e do tríplex do Guarujá ? Certamente nas gavetas de parentes ou amigos-laranja. E estas frutas cítricas são facilmente descascáveis, ainda mais quando já podres.

Por ali – nas gavetas, malas, similares e congêneres caribenhos ou suíços – estão as provas que permitem um veredito final, expondo-se o real volume do gigantesco propinoduto. Não são um sítio ou apartamento – uns grãos de areia da caçamba da corrupção – que um ex-presidente com oito anos de mandato e dinheiro bem aplicado e bem protegido por gastos com cartões corporativos generosos pode legalmente adquirir que irão definir e concluir este imbróglio judicial até agora sem fim e encerrar o tsunami da roubalheira. Por menos, muito menos, Maria Antonieta, mulher do rei francês Luís XVI, após o abuso final e deboche do povo sedento e faminto, oferecendo-lhe brioche enquanto arrotava faisão e champagne, acabou tendo as joias do alvo colo e da coroa da cabeça arrogante separadas com um golpe seco da guilhotina afiada pela indignação popular. Não se trata, aqui, de incitar o povo a qualquer ato de violência substitutivo à Justiça, mas paciência tem limite.

No mais, a nação já se fatia em dois antagônicos Brasis para a eleição presidencial de 2018: Lula, no Norte e Nordeste, com metade das intenções de voto; Bolsonaro, com a outra metade no Sul e Sudeste. Alguma instituição tem de gerar um tertius! Um Alvaro paranaense, quem sabe. Uma emenda eleitoral de emergência da parte do TSE (tão logo o inconsistente Gilmar desocupe o banco) do tipo inscrição suprapartidária hors concours de Marina, Carmen Lúcia e Kátia, até para contentar a vetusta tríade ideológica esquerda-centro-direita?

Do mesmo autor:Dois paradoxos: o alagoano e o paranaense (9 de fevereiro de 2017)

Leia também:As tantas cartas de Palocci (editorial de 29 de setembro de 2017)

Que tal a República de Curitiba implementar uma das dezenas de mudanças inadiáveis, com uma única consulta pública na praça da universidade? Nãos mãos e microfone, a média aritmética para aposentadoria praticada no Japão, Canadá e Suécia. Para políticos de qualquer espécie, o máximo do provento de aposentadoria seria entre o mínimo de 10% e o máximo de 20% do salário de quando eram (in)operantes. Ninguém poderia, a qualquer título, acumular aposentadorias.

Enquanto isso não vem, lembremos os acordes e versos que valem a pena. De Renato Russo (“Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado, ninguém respeita a Constituição”); também lá dos céus, de Gonzaguinha (“Primeiro vocês nos azucrinam e nos põem na boca um gosto amargo de fel”); de Vandré, em disparada entre as nuvens (“Na boiada nós já somos bois”) e até do Chico, o de antes: “Apesar de vocês...” .

A linha divisória entre o medo e a coragem é a capacidade de agir ou reagir. Avante por um Brasil único e indivisível, trabalhador, honesto, corajoso, justo e solidário. Na imprensa livre e nas ruas, sim, mas ordeiramente escandindo fatos e gritando a indignação. Nunca pelas armas.

José Domingos Fontana é professor emérito da UFPR e visitante sênior na UTFPR.
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