Imagem ilustrativa.| Foto: Unsplash
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Os indicadores de melhoria do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), apurados pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) desde 2005, aconteceram durante aumento na proporção de professores que se formam na modalidade a distância. Mesmo assim, o MEC homologou parecer do CNE contrário à EAD.

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Os dados apontam no sentido contrário do discurso do MEC e do CNE, que resultou na homologação da Resolução CNE 04/2024. Essa publicação exige 50% de presencialidade mínima nos cursos de licenciatura a distância, com o falso fundamento de que faltaria qualidade na formação docente por EAD. Porém, os números do INEP mostram que, em paralelo ao crescimento do número de professores diplomados na modalidade a distância, o IDEB vem crescendo sem parar.

Por exemplo, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, o IDEB saltou de 3,8 pontos em 2005 para 5,8 em 2021, considerando a escala máxima de 10 pontos. No mesmo período, subiu de 3,5 para 5,1 pontos nos anos finais do Fundamental. No Ensino Médio, foi de 3,4 para 4,2 pontos.

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Ao mesmo tempo, o Censo da Educação Superior, também realizado pelo INEP, registra um aumento contínuo no percentual de formação de professores da Educação Básica pela EAD no Brasil. Em 2005, o país tinha menos de 30% de licenciandos matriculados na EAD. Esse percentual passou para 38,6% em 2015 e chegou a 62,5% em 2021, ano da última rodada do IDEB divulgada pelo INEP.

A correlação entre esses dados desmente as críticas recorrentes feitas pelo movimento Todos Pela Educação, contrárias à formação de professores por EAD, e que funcionaram como um gatilho para o discurso do MEC e a Resolução restritiva do CNE. O INEP mostra o contrário: a Educação Básica melhorou nas últimas duas décadas.

Em paralelo aos indicadores do IDEB, quando analisados em particular os resultados do SAEB com foco em proficiência em português e matemática no Ensino Fundamental, os números também estão contra os argumentos utilizados pelo MEC.

Em Língua Portuguesa, para os alunos do 5º ano, o indicador era de 191 pontos em 2011; saltou para 208 pontos em 2015 e alcançou 215 pontos em 2019. Em Matemática, a trajetória também foi positiva: 210 pontos em 2011, chegando a 228 pontos em 2019. Os dados para o 9º ano, ao final do Ensino Fundamental, igualmente são positivos.

O fato, incontestável pelos dados do INEP, é que todas as evidências colocam em xeque as críticas e os fundamentos adotados para criar e homologar a Resolução 04/2024 do CNE.

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A decisão do ministro Camilo Santana ao homologar a resolução do CNE retira de quase dois mil municípios a possibilidade de seguir na formação de professores através da EAD. Isso interrompe um ciclo virtuoso iniciado em 1995 pela Universidade Federal do Mato Grosso, quando foi criado o primeiro curso de Pedagogia por EAD no país.

Quando entrar em vigor, a decisão será equivalente ao retrocesso da educação brasileira decretado pelo Marquês de Pombal, em 1759, quando mandou fechar as escolas no Brasil e expulsou os professores, que eram os padres jesuítas.

Eis que, 265 anos após o atraso de Pombal, o ministro vai bloquear a via de acesso ao conhecimento, à inclusão social e ao ascenso profissional daqueles que poderiam se tornar professores nas pequenas e médias cidades do país. E, com isso, agravar a já presente falta de mestres habilitados para atuar no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

Perdem as crianças. Perdem os jovens. Perdem os potenciais futuros professores. Perde o Brasil. É de não acreditar que se formou no entorno ministerial um núcleo de “Todos contra a Educação”.

João Vianney, doutor em Ciências Humanas pela UFSC, é membro do Comitê Científico da ABED, e consultor na Hoper Educação.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]