Antes de tudo, convém esclarecer: este texto trata dos Jogos Olímpicos, e não de sediar os Jogos Olímpicos. A expressão “Jogos Olímpicos” nos remete a coisa boa: esporte, triunfo pessoal, superação, comunhão dos povos, celebração universal. Alguém seria contra? Penso que não. Ainda assim, cabem reflexões.
Vale a pena busca desenfreada por medalha?
Em geral, governos autoritários são mais afoitos por medalhas olímpicas, focando esforços para alcançar estatísticas por vezes enganadoras. Não se importam com sequelas permanentes no corpo dos atletas sob efeito de sacrifícios além do tolerável. Poucas pessoas nascem com musculatura que suporte tanto esforço, mas ainda assim querem pódio em quantidade. Um exemplo é o caso da extinta União Soviética, sempre despontando em números de medalhas, até a ruína final, em 1991. O Brasil atual parece também priorizar a delegação olímpica, penalizando ainda mais o atendimento básico da população que já sofria.
Uma vitória levanta a autoestima da gente. Mas há certa manipulação dessa alegria
Seriam os Jogos Olímpicos a melhor fonte de orgulho nacional?
Vibrar é bom; uma vitória levanta a autoestima da gente. Mas há certa manipulação dessa alegria. Enquanto a lágrima da emoção escorre, vem apelo, compre isso, compre aquilo. A maturidade de um povo pode ser aferida pela consciência de bem-estar coletivo, na qual a competência do empresário, do cientista, do político ou artista merece tanta admiração quanto a dos ganhadores de medalhas em competições esportivas.
Temos aí um longo caminho a trilhar. Em 2014, por exemplo, um conterrâneo nosso, Artur Ávila, se tornou o primeiro latino-americano a ganhar a Medalha Fields, considerada o prêmio Nobel de Matemática, com repercussão ampla no mundo inteiro. Ciência da melhor qualidade e baixo custo. Não houve queima de fogos, nem desfile em carro aberto.
Depois dos Jogos Olímpicos haverá eleição para prefeito. De minha parte, espero que a lisura prevaleça sobre outros interesses, que os partidos apresentem apenas candidatos com perfil para o cargo, e que estes avancem nas propostas além da retórica surrada (jamais cumprida) de saúde, educação e segurança. Particularmente, torço mais pelo desempenho do futuro prefeito da minha Curitiba que pelas metas ambiciosas de medalhas lá no Rio de Janeiro. Direciono inclusive o interesse para solução de três problemas. Que a futura gestão limpe o Rio Belém, que corta a cidade; revolucione o sistema de transporte de pessoas; e desate os gargalos do trânsito caótico. Aí seria bronze, prata e ouro.
E para você, o que é digno de medalha?