A contaminação ideológica da pandemia, por meio de governantes e políticos, tem aberto caminho à desinformação dos cidadãos por crenças infundadas sobre medicamentos e vacinas, que inundam as redes sociais.
Já tive a oportunidade de indagar, em artigo publicado neste jornal no ano passado – quando ainda nem se cogitava a pesquisa e produção de vacinas –, onde entrava a ciência nessa pandemia. Respondi, então, que a ciência não vem da medicina, observando que os médicos, que estão na linha de frente do combate à pandemia, não são propriamente cientistas, a menos que se dediquem (e muitos o fazem) à pesquisa de medicamentos e vacinas. Os cientistas de fato estão nos laboratórios, públicos e privados, que concorrem na produção de vacinas e medicamentos para todos os tipos de doenças, mas hoje focados no combate à Covid-19.
Já a medicina é uma prática voltada ao cuidado dos pacientes e à prevenção e tratamento das doenças. É uma atividade fundamental em qualquer tempo, em todos os países, notadamente em pandemias como a que hoje devasta o mundo.
Embora a medicina siga procedimentos científicos, nenhum cardiologista, ortopedista ou infectologista pode falar em nome da ciência. Em suas respectivas áreas, os médicos prescrevem medicamentos e tratamentos, inclusive intervenções cirúrgicas, de acordo com os protocolos da medicina e das instituições de saúde em que trabalham. Ninguém – muito menos os leigos e políticos – pode se intrometer nessa relação que diz respeito unicamente ao médico e ao paciente.
Quando figuras externas tanto à ciência quanto à prática médica invadem esse terreno, em que são incompetentes, estamos diante do charlatanismo: o conhecimento cede lugar à ideologia. É o que acontece precisamente no Brasil, com governantes e políticos “prescrevendo” tratamentos pseudocientíficos. A prescrição cabe exclusivamente aos médicos, em sua interação com o paciente. Cloroquina, ivermectina e outros medicamentos não devem ser submetidos ao charlatanismo ideológico, que os apresenta como panaceia, indicando inclusive “tratamento precoce” contra a Covid.
Os charlatães ideológicos têm difundido o uso indiscriminado desses medicamentos, sendo responsáveis, por consequência, pelos sérios problemas de saúde que essa “receita” está provocando em muitos indivíduos, desde a necessidade de transplantes, por intoxicação, até o óbito. Trata-se de um crime contra a saúde pública que envolve o presidente da República, os governadores e prefeitos. Que, repita-se, são estranhos à ciência e à medicina.
Como se sabe, a ciência indica a vacinação em massa, única maneira de, ao salvar vidas, recuperar a economia. Menosprezando a vacina, os charlatães se revelaram inimigos tanto da vida quanto da economia. Então, reconheçamos: ciência, sim; medicina, sim; charlatanismo, não.
Orlando Tambosi é professor aposentado da UFSC, doutor em Filosofia e jornalista.
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