A intricada equação que envolve o equilíbrio entre o atendimento de qualidade para os clientes dos planos de saúde suplementar, justa remuneração dos profissionais de saúde e saldo positivo nas contas das operadoras e na rede de prestadores de serviço é mais uma vez colocada à prova. As novas regras da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) passam a valer a partir de hoje para os planos de saúde empresariais.
E é uma equação coletiva que se estende ao amplo universo de pessoas que formam a base de clientes do sistema de saúde suplementar no Brasil. Segundo levantamento da ANS, 52 milhões de brasileiros têm planos de saúde. Desses, 75% estão distribuídos nos planos coletivos e 13 milhões possuem planos de pessoa física.
Amplos também são os pontos de vista. Há um espectro variado, que nem sempre converge para o mesmo lugar. Os clientes das operadoras querem a melhor solução em saúde que a medicina pode oferecer. As operadoras precisam que as despesas sejam menores e a rede de prestadores, formada por hospitais e clínicas, quer mais serviço e, em contrapartida, a lógica reguladora de mercado que desemboca no lucro.
Na essência de todo processo, estamos nós, os médicos, que materializamos em praticamente todas as fases a entrega efetiva do benefício que é o atendimento à saúde.
Ao longo das duas últimas décadas, quando houve o acentuado crescimento do mercado de saúde suplementar no Brasil, a matemática trouxe uma relação diretamente inversa e perversa para os médicos. Cresceu o número de pacientes e, principalmente, os clientes das operadoras, mas diminuíram os valores das consultas, os procedimentos em geral, achatando o honorário médico de forma linear.
Ao mesmo tempo, as exigências de aprimoramento profissional acentuaram-se. Literalmente, o médico tem de estar conectado a todos os avanços, realizando uma atualização permanente. E isso exige investimento. De tempo, de recursos. Dedicação pessoal e profissional.
Este conjunto de evolução e de necessidades na medicina vem ocorrendo intensa e sistematicamente. Avançamos enormemente no conhecimento e no domínio das novas tecnologias, dos novos conceitos. A medicina evolui diariamente, ampliando qualidade de vida e incorporando essa qualidade na longevidade da vida humana.
A grande dúvida que ecoa é por que ainda não é possível incorporar o que existe de mais avançado em termos de estrutura de gestão nas operadoras de plano de saúde para que se possa oferecer a medicina de qualidade reconhecendo com uma justa remuneração também a qualidade do trabalho dos médicos.
Mantida essa fórmula que insiste em drenar do bolso do cliente e do direito dos médicos a parcela necessária para o equilíbrio dos planos de saúde, antevemos um desgaste em larga escala no modelo atual de saúde suplementar no Brasil.
Não falo aqui de um colapso, mas de uma necessidade urgente de construir um novo cenário de eficiência na gestão administrativa da medicina. Temos muitas mazelas para resolver. O cumprimento das novas obrigações, os novos custos que as novas técnicas e as novas tecnologias impõem, a necessidade, inclusive legal, de superávit no balanço das operadoras e a melhora substancial dos honorários médicos.
Precisamos elevar o índice de sucesso das empresas de saúde em suas decisões estratégicas sobre ações competitivas, investimentos, tecnologias e marketing. Se as decisões gerenciais ainda são tomadas com base nos acontecimentos passados e o modelo de planejamento trabalha com a projeção desses acontecimentos passados, precisamos pensar à frente.
Precisamos quebrar esse condicionamento, romper o dreno e usar uma nova fórmula que traga o crescimento pela inovação e por meio de boas e modernas práticas de mercado. Enfim, um novo modelo de gestão mais eficiente nas operadoras que não privilegie, mas reconheça a importância dos médicos na medicina. Equilíbrio em saúde exige medicina de qualidade para todos. Inclusive para os médicos.
Rached Hajar Traya é presidente da Copamed e coordenador do Pronto-Socorro do Hospital do Trabalhador.
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