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opinião do dia 2

Meio ambiente e ambientalistas estão desprotegidos

O governo da presidenta Dilma insiste em projetos como a hidrelétrica de Belo Monte, uma usina que produzirá menos energia, proporcionalmente à capaci­­­dade de produção

Muito se fala hoje do sucesso econômico brasileiro e de seu novo papel no cenário mundial, mas o país ainda não consegue implantar um único programa eficiente de proteção de seu patrimônio natural e a vida daqueles que tentam defendê-lo. Sofremos com o descaso de políticos que trabalham para defender seus interesses pessoais e não coletivos, tratando as questões ambientais em segundo plano, como um empecilho para o desenvolvimento do Brasil. Uma visão retrógrada e perigosa para as atuais e futuras gerações.

Somente no mês de maio vimos acontecimentos que nos deixaram perplexos em relação à preservação do meio ambiente e a vida de quem tenta protegê-lo. Primeiro, o lobby do agronegócio conseguiu a maioria na Câmara de Deputados para votar um novo Código Florestal que anistia os desmatadores, aprova a diminuição das Áreas de Proteção Permanentes (APPs) e a estadualização da política ambiental. Além de ignorar os alertas da comunidade científica, tudo isso se passa num cenário que se repete todo o ano – o do desmatamento na Amazônia que quintuplicou no bimestre março-abril em comparação com o mesmo período de 2010. Os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registraram o corte de 593 quilômetros quadrados de florestas, extensão equivalente a quase duas vezes a área das Ilhas Maldivas. Duvido de que esses números atrapalharam o sono dos 410 deputados que votaram o Código.

E quando se acha que a situação não pode ficar pior do que isso, três ambientalistas são assassinados por jagunços, dois no Pará e um em Rondônia. O casal de seringueiros de Nova Ipixuna, Pará, José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, já havia registrado queixa no Ibama sobre as ameaças que sofria. Enquanto que Adelino Ramos, conhecido como Dinho, foi assassinado em Porto Velho (RO). Dinho era um sobrevivente do Massacre de Corumbiara, ocorrido em agosto de 1995 e denunciava ação de madeireiros na região. Cenas de um filme que volta às telas, como o assassinato de Chico Mendes e da Irmã Dorothy Stang, e que certamente ainda não chegou ao fim. Infelizmente, nossos representantes em Brasília acompanham apenas como espectadores.

O fato é que a visão ainda ortodoxa do poder político-econômico instalado no Planalto não tem interesse ou mesmo a capacidade de entender o valor dos serviços globais prestados pela floresta, como por exemplo, para estocar e sequestrar carbono que gera o benefício de regular o clima no planeta. De acordo com estudos de ecoeconomistas, se liberado na atmosfera, esse carbono seria equivalente a cerca de 20 anos de consumo de combustíveis fósseis. Isso sem contar o valor da sua biodiversidade e de seus recursos hídricos.

Além de não proteger o que temos de mais valioso, a última grande reserva de floresta tropical do Planeta, o governo da presidenta Dilma insiste em projetos como a hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, Pará, que acaba de receber autorização para construção pelo Ibama. Uma usina que produzirá menos energia, proporcionalmente à capacidade de produção, e que terá maior custo para os investidores na comparação com outros empreendimentos de grande porte, em razão da intensidade dos impactos sociais e ambientais na região.

Depois da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) solicitar oficialmente ao governo brasileiro a suspensão imediata do processo de licenciamento de Belo Monte e da imprensa mundial condenar a votação do Código Florestal, espera-se que alguma luz (de preferência, solar) ilumine os nossos senadores e que esses absurdos sejam revertidos.

Eloy F. Casagrande Jr., coordenador do Escritório Verde da UTFPR, Ph.D. em Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente e pós-doutorado em Inovação Tecnológica e Sustentabilidade, é professor da UTFPR.

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