Outro dia, retornando de uma viagem a Paranavaí, deparei-me com dois graves acidentes envolvendo vários veículos na BR-376, relativamente próximos um do outro. Depois, fiquei surpreso com a pequena divulgação dessas notícias, que, possivelmente por serem rotineiras, não suscitaram repercussão, apesar da ocorrência de mortes.
Mesmo com a maioria desses casos sendo causada, segundo as autoridades, por imprudência dos motoristas, há uma verdade que não se pode calar: as rodovias da região estão saturadas e sem condições de suportar o aumento gradativo do tráfego. Muitos desastres, sem dúvida, acontecem devido a esse esgotamento.
Polos regionais como Paranavaí, Cianorte, Umuarama, Campo Mourão e outros, sem falar de Maringá, passam por um desenvolvimento significativo, refletindo o bom momento da economia brasileira. São novas empresas e indústrias que se instalam, gerando mais riqueza, as safras agrícolas em expansão, a população que cresce, enfim. Contrapondo-se a essa dinâmica realidade, as rodovias continuam exatamente as mesmas, principalmente as que são mantidas com recursos públicos.
Tomemos o exemplo de Cianorte. Nos últimos dez anos, o município cresceu expressivamente como centro industrial de confecções, atraindo um grande número de investimentos e, claro, compradores de várias regiões do país. Em igual período, segundo dados oficiais, duplicou a quantidade de veículos que trafegam pela obsoleta PR-323, construída ainda na década de 1960. O resultado é que aumentou também, e de forma assustadora, o número de acidentes e vítimas, porque aquela via embora melhor conservada que em outras épocas continua exatamente a mesma de sempre: plataforma estreita, ausência de terceiras pistas e, em muitos lugares, com acostamentos e sinalização impraticáveis.
A maior parte das estradas e pontes da região foi construída no tempo em que nem havia grandes carretas como as das configurações atuais. Têm 40 ou 50 anos de existência e jamais receberam obras de ampliação. Até quando ficaremos assim? De quem é a responsabilidade?
A concessão de rodovias foi uma medida acertada. Não fosse por ela, teríamos ainda, com certeza, as saídas de Maringá para Campo Mourão e para Paranavaí operando em pistas simples, com tráfego extremamente moroso, acidentes todos os dias e o custo do transporte ainda mais elevado. Está na hora, portanto, de passar para uma fase seguinte, reavaliar trevos perigosos como o de Atalaia, avançar mais nas duplicações, investir em viadutos, ampliar as terceiras pistas e, dessa forma, superar gargalos que há muito exigem providências e causam tantas mortes.
Nos últimos anos, absurdamente, devido ao litígio entre governo estadual e concessionárias, muitas obras importantes que estavam programadas, acabaram ficando de lado, como o contorno de Mandaguari. Com relação a este, felizmente, caminhamos para um final feliz, o que também deve acontecer com a antiga reivindicação de um viaduto em Sarandi e aquele trecho não duplicado da BR-376 próximo a Iguatemi.
Mas é hora de as lideranças sentarem-se à mesa e projetar o que se quer do futuro. Os tempos, afinal, são de desenvolvimento e a região está precisando, sobretudo, de vias de escoamento mais apropriadas. Não há como conceber o futuro sem que a malha rodoviária receba investimentos em modernização.
Falamos de uma mobilização responsável e comprometida, que busque soluções viáveis a curto e longo prazos, reduzindo riscos para a população e integrando as cidades. As estradas, apesar de envelhecidas, têm sido relegadas a um plano secundário na escala de prioridades, como se fosse possível ter, ao mesmo tempo, crescimento econômico vigoroso e uma estrutura logística marcada pela absoluta estagnação.
Luiz Lourenço é presidente da Cocamar Cooperativa Agroindustrial