A um ano das eleições para presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, embora seja ainda muito cedo para abordar candidaturas e deflagrar campanhas, é preciso refletir sobre a necessidade de uma visão mais assertiva de país. Precisamos de um projeto para a nação, com um planejamento de pelo menos 15 anos, abrangendo educação, cultura, tecnologia, inovação e agenda da sustentabilidade, vetores que movem a sociedade contemporânea.
Ao mesmo tempo, é preciso cuidar para que as contas públicas fiquem em ordem e trabalhar para que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) volte ao centro da meta, pois há um perigoso fenômeno inflacionário mundial. Cabe considerar que sofremos impacto maior, pois os países desenvolvidos têm menos memória desse tipo de desequilíbrio na economia e conseguem debelar o problema de maneira menos invasiva na política monetária, incluindo taxas de juros menores.
Também estamos enfrentando os desafios da logística e algumas questões enfatizadas pela pandemia da Covid-19, como os altos riscos da dependência de insumos estratégicos, de determinadas origens, para a saúde, a defesa e o meio ambiente. Não se trata de fechar o país ao mundo, mas de construir suas competências a partir das suas vantagens comparativas mais evidentes e fortalecer aquelas que, mesmo não tão claras, sejam relevantes para aumentar nossa independência e alavancar a competitividade.
Ante tais desafios, é necessário que os três poderes e seus integrantes, no exercício de suas responsabilidades, façam sua parte para que tenhamos uma agenda objetiva e eficaz, que estabeleça um norte para o Brasil. Não tem sido esta a tônica do país. Por isso, sem relegar as prioridades presentes e urgentes, é preciso pensar no futuro a ser delineado para as próximas gerações.
Não se trata de fechar o país ao mundo, mas de construir suas competências a partir das suas vantagens comparativas mais evidentes.
Os postulantes a cargos eletivos não devem aguardar a posse para começar a estruturar suas plataformas de trabalho. É preciso que, caso eleitos, já tenham pronto um projeto efetivo muito mais consistente, realista e exequível do que a conhecida e desgastada peça de marketing eleitoral intitulada “plano de governo”. O Brasil atual carece pouco de diagnósticos, que já são muitos e razoavelmente precisos; necessita, sim, de capacidade de execução e competência para que se agregue o devido valor ao dinheiro público. Afinal, pagamos muitos impostos e temos retorno muito baixo.
A agenda de combate à desigualdade é crítica. Os programas sociais são importantes e necessários, mas a oportunidade de sermos uma nação realmente desenvolvida brota da educação e da cultura, com projetos substantivos, como os que conduziram o progresso e a ampla inclusão socioeconômica em países como a Coreia do Sul e Cingapura, que dispõem de muito menos recursos do que nós.
Não é o caso de repetir a agenda de terceiros, mas de criar um robusto programa de fomento nacional. Por isso, nosso lema deve ser menos calor e mais luz, paragerar propostas concretas para o crescimento sustentado e sustentável e o bem-estar da população. O debate político precisar ser focado nesses propósitos. Os brasileiros querem saber – e devem cobrar isso – o que cada um dos postulantes à presidência da República, governos estaduais e parlamentos oferecerá de si e o que pretende fazer em favor do desenvolvimento. O Judiciário, embora não tenha cargos eletivos, também precisa integrar-se a essa agenda.
É prioritário construir um projeto de nação, pois, nas últimas quatro décadas, perdemos pelo menos 20 anos de baixíssimo crescimento. Ou seja, mais do que simplesmente candidatos, precisamos de pessoas que já cheguem ao governo com propostas e ideias e capacidade articuladora para convertê-las em políticas públicas eficazes na promoção do desenvolvimento.
Fernando Valente Pimentel é presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção.
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