Metaverso e a evolução das tecnologias sociais| Foto: Big Stock, World Image/Reprodução
Ouça este conteúdo

No fim de outubro, Mark Zuckerberg, CEO e fundador do Facebook, anunciou o lançamento da nova marca, Meta, que será uma companhia adaptada ao “metaverso”. De lá para cá, muito tem se falado sobre o tema. Mas ainda parece haver pouca compreensão sobre o que é, de fato, o metaverso e, principalmente, os desafios para sua criação e as transformações que esse novo mundo irá provocar nas vidas e nos negócios. Importante deixar claro desde já: estamos longe de desenvolver a tecnologia necessária para dar vida ao metaverso.

CARREGANDO :)

“Metaverso” vem do prefixo “meta”, que significa transcendente, e “verso”, de universo: “universo transcendente”, que descreve um mundo virtual interconectado com o mundo físico. A palavra apareceu no livro Snowcrash, de Neal Stephenson, de 1992. Mas a ideia de mundos virtuais habitáveis ​​por nós sempre existiu na cultura e fantasias humanas. Apareceu, por exemplo, em 1982, no filme Tron, que ganhou remake em 2010; na trilogia Matrix e em vários episódios da série Black Mirror. Jogos como Second Life e Fortnite também se apoiam nesse universo virtual.

O conceito de metaverso, também chamado de Web 3.0 ou Spatial Web, pressupõe a criação de uma “internet em 3D” que se conecta ao mundo físico de forma natural. Nessa nova web, é possível interagir com entidades virtuais “trazidas” para o mundo real, da mesma forma que nos leva para o mundo virtual. O usuário, em vez de consumir texto, vídeo e áudio por uma tela, pode “entrar” num mundo virtual, com a possibilidade de sentir, fisicamente, sensações vividas pelo seu avatar, que seria a sua persona neste mundo.

Publicidade

Exemplos? Pense no trabalho remoto hoje e como ele poderia ser se você “entrasse” num ambiente e pudesse interagir com seus colegas de trabalho; imagine uma compra on-line num ambiente que o coloque numa loja virtual imersiva, parecida a uma loja virtual, em que você (ou seu avatar) entraria na loja e escolheria um livro, roupa ou um automóvel – que tal fazer um test drive de um Porsche num universo que simula uma estrada nos Alpes alemães? A imaginação é o limite para as experiências que podem ser criadas.

Quando se tornar realidade, o metaverso poderá ser o nosso local de trabalho, de socialização e de divertimento. Duvida? Pense na quantidade de horas que jovens passam nas redes sociais 2.0 e compare com a intensidade das experiências do metaverso (quem assistiu ao episódio “Striking Vipers”, da série Black Mirror, consegue entender). O apelo será muito grande para ser ignorado.

Mas o metaverso vai além da inserção num mundo virtual; trata-se de um mundo bidirecional, que proporciona experiências físicas no mundo virtual – e experiências virtuais no mundo físico. Nesse segundo caso, podemos pensar numa pessoa planejando a decoração de uma casa nova. Ela posiciona o sofá virtual no local escolhido na casa usando óculos ou lente de realidade aumentada. Quando o entregador chegar, poderá, com os óculos dele, saber exatamente onde instalar o sofá real. Podemos pensar em outras aplicações, como um guia virtual que acompanha o turista numa cidade, ou um treinamento em que uma pessoa possa apertar um parafuso virtual com uma chave de fenda real.

Além dos aspectos legais e éticos, o metaverso tem potencial para criar uma nova economia. As oportunidades de novos negócios para as empresas são enormes.

A criação do metaverso forçará a sociedade (pessoas, governos e empresas) a repensar questões relativas a leis, direitos, liberdade e privacidade. Com o desenvolvimento do metaverso, será possível uma pessoa criar um avatar independente, que emula o comportamento da “pessoa” por meio de inteligência artificial e aprendizado de máquina. Se esse avatar cometer um crime cibernético, quem deverá responder criminalmente? Uma pessoa poderá ser demitida caso seu avatar desrespeite um colega ou não cumpra um prazo?

Publicidade

O metaverso terá um “dono”? Quem irá controlá-lo? Uma Big Tech? O governo de um país? Ou um grupo formado por governos e empresas? Quem vai escolher esse grupo? Os códigos para sua criação serão abertos? Quem será o “juiz” para resolver disputas no mundo virtual?

Há questões mais existenciais: uma pessoa poder ter vários avatares e interagir anonimamente? Será possível assumir a imagem de uma pessoa famosa viva ou de um personagem histórico? Nesse caso, como identificá-la em situações em que isso seja relevante? E o que fazer com o avatar de uma pessoa morta? Ele poderá sobreviver no metaverso? Ou deverá “morrer” junto com seu duplo?

Além dos aspectos legais e éticos, o metaverso tem potencial para criar uma nova economia. As oportunidades de novos negócios para as empresas são enormes. É evidente que os objetivos das grandes empresas para o desenvolvimento do metaverso são econômicos. Um novo mundo com infinitas possibilidades de criação de experiências e jornadas é um grande mercado potencial para trabalhar. A criação de uma economia virtual paralela, que suporte todos os processos comerciais do novo mundo e com um nível de complexidade ainda maior do que o atual mercado econômico global, será, portanto, inevitável.

Apesar da empolgação de Zuckerberg e de muita gente, o desenvolvimento do metaverso passa pela superação de desafios tecnológicos que, hoje, são consideráveis. As atuais redes de transmissão de dados não suportam o montante de dados para renderizar um mundo virtual em altíssima resolução, assim como os processadores ainda estão aquém do necessário. E precisamos desenvolver tecnologias para aumentar a interação entre o mundo físico e virtual, entre outros desafios.

Por enquanto, o metaverso é apenas uma ideia fascinante e empolgante.

Publicidade

Pablo Saéz é sócio-líder de Digital Technology da NTT Data.