Olhando para a realidade brasileira quanto a alfabetização de crianças, jovens e adultos, nos deparamos com um índice de analfabetismo no Brasil que diminuiu de 12% a 8% de 2001 até ano passado, de acordo com o Indicador de Alfabetismo Funcional do Instituto Paulo Montenegro, referente ao ano de 2018. Contudo, o índice de proficiência de leitura teve poucas oscilações nesse período e está hoje em 12% – mesma marca de 2001. Esses dados nos confrontam com uma realidade de precariedade em que se encontra o ensino e aprendizagem de leitura e escrita da língua materna no Brasil.
O método fônico é um caminho que apresenta estratégias de ensino coerentes com a estrutura da língua portuguesa
Reconhecemos no método fônico um caminho que apresenta estratégias de ensino coerentes com a estrutura da língua portuguesa, ao trazer para o aluno o aprendizado da relação fundamental nas línguas fonéticas entre grafema e fonema, e ao desenvolver consciências como a consciência fonêmica. Esse aprendizado tem ainda se mostrado muito oportuno para as crianças, porque os estudos de neurociência reiteram como nosso processamento cognitivo é favorecido quando pensamos a partir de critérios que são estruturais da língua que falamos, partindo dos elementos simples para os mais complexos. A criança é capaz de perceber o som das letras que ela produz, com seu próprio corpo, e depois observar como esses sons estão presentes nas palavras que todos nós falamos, e compreender como usamos essas palavras para formar as frases e expressar aquilo que vivemos, pensamos e sentimos.
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Entrar na discussão sobre se o que é mais relevante no ensino da língua materna deve ser o entendimento ou o uso pleno de sua estrutura, priorizando sua função social, não parece ser a melhor postura diante do desafio de proficiência que se impõe a nós educadores e alfabetizadores brasileiros. Reconhecemos na conciliação entre alfabetização fonética e a contextualização cultural da língua em uso e em aprendizagem, o que é necessário para o favorecimento de uma cultura letrada plena, que atinja uma margem significativamente maior do que 12%. Um entendimento mais conciliador de nossos estudos otimizará a vida de um professor que, diante dessa geração tão carente de boas histórias, de repertório cultural, de acesso a bons livros, a boas bibliotecas, a bons filmes e boas músicas, está pedindo por clareza de posicionamento, e não mais conflito.
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