O mosquito Aedes aegypti é o vetor de um mal que ano a ano vem assolando a população brasileira inteira. As fêmeas infectadas com quatro variantes do vírus da dengue – e, por vezes, também com aqueles das febres amarela e chikungunya – foram agora caracterizadas como portadoras e transmissoras de uma nova virose, confiavelmente atribuída pela comunidade médica infectologista como implicada na microcefalia infantil. O Nordeste brasileiro é, por ora, a zona de maior ocorrência de tão lamentável e irreparável enfermidade, com os estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia, Sergipe e Ceará como aqueles de maior incidência deste flagelo fetal e infantil, com milhares de casos notificados e dezenas de mortes de bebês. A fêmea do mosquito pratica intensa hemofagia, pois o íon ferroso da hemoglobina do sangue é o que induz a ovideposição para completar um ciclo morfogenético.
Em função da progressiva resistência do mosquito aos inseticidas como o Temephós (organofosforado) e Cipermetrina (piretróide sintético), algumas alternativas têm sido propostas. No Laboratório de Quimio/Biotecnologia de Biomassas (da UFPR e UTFPR) encontramos que simples extratos alcoólicos de sementes de duas plantas comuns – graviola e pimenta do reino –, quando combinados em proporções adequadas e aplicados mesmo em diminutas dosagens em águas paradas, atuam com cinco vezes mais potência na morte das larvas do mosquito, já que o combate aos adultos volantes é de menor eficiência. Em termos científicos, se dá um sinergismo ou superaditividade de efeito larvicida, juntando a piperina e acetogenina dos mencionados fitolarvicidas.
Só um descerebrado pode imaginar que poderia permanecer impune ao longo de toda a vida política
Há, porém, uma outra enfermidade mais daninha a toda a população brasileira. A anencefalia adulta política. Provavelmente tem alguma origem genética, mas com muito mais certeza o clima e outros contextos de algumas regiões – tendo Brasília como locus preferencial – têm favorecido esta ocorrência de forma escancarada e descarada na última década e meia. E a enfermidade não se reduz à região nordestina nem tem preferência por ela, não obstante os notáveis exemplos de lá advindos. Lula, o sindicalista puro das montadoras de veículos paulistas, ao desembarcar em Brasília, pelo voto, a contraiu pelo deslumbramento com o poder, gastos à vontade e ambição monetária. Repassou aos filhos a melhor parte. Dois recém-denunciados pelo pioneiro-campeão da concussão na Petrobras – Cerveró, agora arregalando o outro farol dianteiro nas vantagens da delação premiada – são oriundos das proximidades com a linha do Equador nacional: Calheiros, o criador do factoide político Collor; e Barbalho, o boto não cor-de-rosa paraense. Ambos respondendo por embolsar dinheiro ilícito a uma Justiça lenta por causa dos privilégios antigos de presidência do Congresso Nacional. Cômico, se não fora trágico. Delcídio, mais boquirroto, inaugurou a prática de xilindró mesmo na condição senatorial de líder do (des)governo. A boa nova isolada é que o clã Sarney parece ter entrado em extinção.
O nome desta neoenfermidade parece bem apropriado. Só um descerebrado pode imaginar que poderia permanecer impune ao longo de toda a vida política por ter aprendido a dissimular as práticas de corrupção tecnicamente designadas de propina, suborno e roubo explícito que se tornaram rotina neste país entre políticos, dirigentes de estatais e comandantes de grandes empresas privadas.
Talvez mais um factoide, tal qual aquele do herói de guerra e ex-presidente francês Charles de Gaulle, que teria dito, mas não disse, que “Le Brésil est pas un pays sérieux”. Ou não, pois circula na mídia uma montagem de uma falsa capa do Charlie Hebdo na qual o ex-presidente camisa 13 toca, com luxúria, o traseiro de Têmis, a deusa grega da Justiça, aqui desrespeitosamente simbolizando o STF. Por muito menos o mesmo tribunal determinou o enjaulamento do senador em exercício. O espírito de Joaquim Barbosa parece começar a reiluminar a Suprema Corte. Justitia patiens, sed non defectum.
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