Mais do que uma singela referência ao dia em que nascemos, a palavra Natal nos remete à festa em que se comemora o nascimento de Cristo. Por esta razão, é uma data notável, época de confraternizações, troca de gentilezas e presentes, hábitos que simbolizam uma especial forma de manifestarmos nosso carinho àqueles que são importantes em nossas vidas e que, verdadeiramente, amamos. E, neste quesito – amor –, não há o que supere o de uma mãe pelo seu filho e, de forma recíproca, deste por aquela que o gerou. Entre estes dois há uma intensa e profunda relação que, inexplicavelmente, ultrapassa o amor que nós, pais, sentimos por nossos filhos. Aliás, o que antes era inexplicável, hoje vem sendo desvelado pela medicina que busca fundamentos científicos desta intensa e mútua relação entre mãe e filho, como no microquimerismo fetal.
Estudos recentes demonstram a existência de um tráfego bidirecional de células durante a gestação, o chamado microquimerismo fetal. Células fetais passam rotineiramente para a circulação materna e vice-versa, sendo que esta troca é observada já a partir da 4ª ou 5ª semana de gestação. A carga de DNA fetal no sangue periférico materno aumenta progressivamente durante a gravidez, atinge o seu pico no momento do parto e permanece no corpo da mãe durante vários anos, tendo sido comprovados casos de células fetais detectadas na circulação sanguínea da mãe até 27 anos após o parto, persistindo em determinados órgãos maternos como medula óssea, rim, fígado e coração.
O microquimerismo fetal é mais uma dádiva da criação que nos revela a maternidade como uma verdadeira benção. É filho e mãe trocando presentes entre si como uma forma de retribuir o amor de um pelo outro, um modo natural de cuidar, proteger e servir o próximo
Agora, o mais interessante disso é que, apesar dos efeitos do microquimerismo fetal na saúde da mulher ainda não terem sido completamente esclarecidos, há evidências de cura de câncer de mama e de respostas positivas de reparação nos tecidos maternos, tendo sido reportado um caso, por exemplo, de uma mulher diagnosticada com hepatite C onde a biópsia hepática evidenciou a presença de células masculinas que, perante as lesões no fígado, foram capazes de se diferenciar e participar na regeneração do órgão.
Importante registro é que, neste caso, em particular, tais células fetais reparadoras eram provenientes de um aborto que esta mulher sofreu 19 anos antes, ou seja, mesmo que o filho não tenha tido a chance de nascer, ele deixou células que irão, futuramente, salvar a vida de sua mãe.
Como vemos, o microquimerismo fetal é mais uma dádiva da criação que nos revela a maternidade como uma verdadeira benção. É filho e mãe trocando presentes entre si como uma forma de retribuir o amor de um pelo outro, um modo natural de cuidar, proteger e servir o próximo, tal como nos ensina Aquele que vamos celebrar neste próximo dia 25.
Então, neste Natal, lembremos que o micropresente que o próprio meninoJesus deu à Maria continua – ainda hoje – a curare salvar mães, sejam aquelas que levaram a gravidez a termo ou mesmo as que, infelizmente, passaram pela triste experiência de um aborto, espontâneo ou provocado.
Um santo e abençoado Natal a todos.
Danilo de Almeida Martins é defensor público federal.