É sempre curioso quando a principal advertência – em geral disfarçada de “conselho” – dada a um profissional é: “Deixe suas crenças em casa. Trabalho é trabalho”.
Tal fenômeno está longe de ser recente. No século IX a.C., o Rei Acabe já considerava o profeta Elias como um dos integrantes da “ala ideológica” de Israel, e revoltava-se ao vê-lo associar o fracasso da economia, do poder bélico e da sociedade local à desobediência ao Senhor.
O mais recente alvo da advertência preferida dos (pseudo)intelectuais é Milton Ribeiro, novo ministro da Educação.
Antes de prosseguir, antecipo: eu não conheço o ministro. Não sei quais são suas raízes teológicas. Não sei qual é o seu caráter. Não sei até que ponto sua conduta está alinhada à sua mensagem, e vice-versa. Uma coisa, porém, eu sei: quanto mais “cristão” ele for, melhor, e se ele for um verdadeiro pastor, os milhões de estudantes brasileiros serão extremamente beneficiados.
As classes política e intelectual demonstram imensa dificuldade em entender que as crenças religiosas e filosóficas de uma pessoa são o mais confiável dado que se pode obter sobre alguém. Obviamente, essa lógica não vale para “não praticantes”. É preciso aliar teoria e prática, mas é impossível ter a segunda sem o alicerce da primeira.
Tudo aquilo que eu faço voluntariamente, sem que ninguém me obrigue ou sem vislumbrar nenhum benefício em troca, é o que melhor revela a essência do meu ser. Não sou as leis que sigo; sou as escolhas que faço. Não sou o que posto nas redes sociais; sou o que escondo no mais íngreme monte da minha alma.
Conheça o que verdadeiramente me move e você terá uma grande noção de para onde irei.
Portanto, bastaria um rápido olhar sobre o cristianismo para perceber que, se alguém o levar realmente a sério, essa pessoa estará infinitamente mais qualificada para um cargo público, ao menos do ponto de vista moral, do que um racionalista com 45 diplomações em universidades de 5 diferentes continentes.
O cristianismo é tão eticamente rigoroso que Jesus afirmou que olhar maliciosamente para uma mulher equivale a adulterar com ela. Repito: para Cristo, não há diferença entre quem vira a cabeça para olhar a vizinha passar e quem leva uma garota de programa para o motel.
O cristianismo leva tão a sério as competências socioemocionais – principal bandeira da Educação do Século XXI segundo o próprio Fórum Econômico Mundial – que propõe que odiar uma pessoa (a ponto de desejar que ela morra infectada pela Covid-19, por exemplo) equivale a matá-la com as próprias mãos.
Nos 33 anos em que esteve encarnado entre nós, Jesus viveu sob um regime tirânico e, ao invés de derrubar estátuas de César e gritar “Hebrews Lives Matter”, disse a seus discípulos que “seu reino não era desse mundo” e que ao César que lhes oprimia deveria ser dado o que lhe era de direito.
A notícia de que teremos um ministro que professa que este Jesus – e não aquele hippie esotérico sobre os quais alguns gostam de conjecturar - é um modelo de vida deveria animar a todos.
Portanto, nesse sentido, todos que estão verdadeiramente preocupados com a educação brasileira deveria dizer: "Ministro, por favor, seja cristão!”.
Quem diz estar preocupado com a “ideologização da gestão pública” deveria, no mínimo, estudar a ideologia de cada gestor. Se ela for boa a ponto de ser responsável pelos maiores avanços da sociedade ocidental, cabe à sociedade cobrar que tal ideologia seja colocada em prática, e não guardada em uma gaveta. Não é preciso ser cristão para reconhecer os benefícios do cristianismo.
Deixo aqui ainda uma dica preciosa aos “técnicos”: cobrem dos homens que estes sejam exatamente o que suas ideologias defendem. Os “ideológicos” que verdadeiramente viveram o que pregaram são aqueles que fizeram a diferença, para o bem ou para o mal.
Quem deve guardar as crenças na gaveta são aqueles que creem que o Estado deveria interferir em tudo, inclusive em minha sala de estar. São os que creem em um “bem maior” que justifica a morte de um indivíduo. São os que exigem o fim da individualidade enquanto fingem combater o individualismo. São, em suma, os que “veem Deus em todos os lugares”, inclusive nos genocídios e ditaduras dos quais são cúmplices.
Quem diz isso não é somente a Bíblia – o livro mais vendido do planeta, mas que nunca recebeu as honrarias de um best-seller –, mas a própria história. Ao menos aquela que é contada de forma intelectualmente honesta.
Arthur Vivaqua é pastor e teólogo. Também atua como Consultor de Estratégia e Marketing aplicados à Educação prestando serviços autônomos para CEOs e empresas do setor.
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