• Carregando...

A notícia da semana foi a denúncia do deputado federal Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, pelo suposto recebimento de propinas no esquema Lava Jato. O Ministério Público pede penas que atingiriam 184 anos de prisão e a devolução de R$ 80 milhões aos cofres públicos. No mesmo dia, outra denúncia, contra o senador Fernando Collor, que desde 1989 vem fazendo das suas. Retornou à vida pública, após o processo de impeachment de 1992, sob o beneplácito do eleitor alagoano.

Por aqui, o deputado estadual Edson Praczyk esqueceu os bons modos. A imprensa divulgou que ele era alvo de denúncia do MP por abrigar funcionários fantasmas em seu gabinete na Assembleia Legislativa; como resposta, ele preferiu ofender a jornalista Paola Manfroi, da RPCTV. Questionou sua honorabilidade e sua competência profissional, quando sugeriu que a jornalista teria feito certos favores à fonte de suas informações. Fez isso de uma forma tão grosseira que nem é recomendável repetir suas palavras. Ignorou as garantias da liberdade de expressão e imprensa, constitucionalmente previstas. A conduta agrava-se quando se sabe que o deputado também é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus e, vejam só, presidente da Comissão de Ética da Assembleia.

O simples fato de ser denunciado pelo MP deveria servir para que Praczyk espontaneamente optasse pelo seu afastamento

Os três casos mostram como anda mal o Legislativo. Cunha foi alçado ao importantíssimo cargo de presidente da Câmara em eleição indireta, pois o colégio eleitoral é composto pelos deputados federais. Eles são os responsáveis por sua ascensão. O resultado foi péssimo, pois a sua exposição e teimosia na defesa de questões pessoais refletem mal em todo o parlamento. Com a denúncia do MP, deveria tirar o time de campo, mas não o fará, pois tem na presidência uma arma que utiliza com habilidade, sem medir as consequências. É de se perguntar por que algumas pessoas não usam sua inteligência para o bem do país, em vez de mirar interesses menores.

Fernando Collor dispensa apresentações. A sua permanência no parlamento depois de tantas situações desmoralizantes revela como o povo vota mal e esquece rápido. Jamais deveria ter retornado à cena política. Mas está aí, para desagrado geral.

E o que dizer da conduta ofensiva do deputado Praczyk? No mínimo, deveria pedir o afastamento da Comissão de Ética, que serve mais à proteção dos denunciados, como ocorreu recentemente com o deputado que presidia a Assembleia Legislativa no escândalo da multidão de funcionários fantasmas e atos secretos. O simples fato de ser denunciado pelo Ministério Público deveria servir para que Praczyk espontaneamente optasse pelo seu afastamento. Em países onde os costumes são mais rigorosos, isso já teria ocorrido. Seria um gesto digno, como também o seria pedir perdão pela ofensa praticada contra a jornalista Paola Manfroi.

Mas, sinceramente, não há expectativa que nada disso aconteça. Seria uma boa surpresa se isso ocorresse.

Então, na fé cristã , só resta apelar ao Todo-Poderoso para nos dar paciência e sabedoria. Suportar os que nos representam, os que agem despidos do altruísmo requerido pelo cargo. Dar-nos força para continuar lutando por dias melhores. Não custa nada pedir uma mãozinha a Ele, para os eleitores escolherem melhor. E, se chegamos a esse ponto, é porque a situação está muito, muito feia.

José Lucio Glomb é presidente do Instituto dos Advogados do Paraná e ex-presidente da OAB Paraná.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]