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Mito e fato sobre a paz no Oriente Médio

Muito se tem dito e escrito a respeito do conflito entre Israel e os palestinos nos últimos dias por causa do aumento da violência e do enfoque da mídia sobre Gaza. Essa convergência tem levado a críticas para todos os lados, com o peso maior sobre Israel, que alguns afirmam ter o direito de se defender, acusando-o ao mesmo tempo de atingir civis e de usar força desproporcional.

Preconizar isso é controvertido porque em todas as guerras da humanidade sempre houve vítimas civis. Por outro lado, como o Hamas desde 8 de julho já atirou, indiscriminadamente, cerca de 3,5 mil mísseis sobre civis israelenses, seria proporcional atirar de volta sobre Gaza 3,5 mil foguetes a esmo? Isso não causaria um número de fatalidades muito maior? Deve-se observar que o número de baixas em Gaza é mais elevado em relação ao dos israelenses porque o Hamas, como é público e notório, utiliza sua população como escudos humanos, ao passo que Israel protege seus cidadãos com a construção de abrigos antibombas e com o sistema do "Domo de Ferro", que intercepta e explode no ar os mísseis agressores.

O enfoque no conflito atual entre Israel e Gaza faz as pessoas esquecerem que no Oriente Médio, hoje, ocorrem outras guerras mais graves, como a da Síria, onde já há cem vezes mais mortos do que em Gaza; ou no Iraque, onde minorias como os yazidis — um antigo povo das montanhas curdas — estão sendo trucidados, e os cristãos, crucificados, desmembrados e assassinados em massa, inclusive milhares de crianças. No entanto, o que se vê são protestos de governos, manifestações nas ruas das grandes cidades, ácidas discussões nas redes sociais só alcançando Israel e, não raras vezes, extrapolando para o antissemitismo mais primitivo.

O grande mito em torno da paz refere-se à ocupação da Cisjordânia por Israel em junho de 1967, em consequência da Guerra dos Seis Dias. Deve-se recordar que essa área havia sido ocupada pela Jordânia em 1948, na Guerra da Independência de Israel. Em novembro de 1967, a ONU aprovou por unanimidade a Resolução 242. Embora seu texto seja claro a respeito do tema, até hoje, por interesses políticos, ela continua sendo mal interpretada.

Diz-se que a resolução, em linhas gerais, exige a retirada total de Israel da Cisjordânia para a criação do Estado palestino. Porém, a verdade é bem distinta. O texto original, em inglês, cita "from territories" (de territórios) e não "from the territories" (dos – ou seja, de todos – territórios). De tanto se repetir a incorreção, acabou-se por distorcer o que a resolução realmente diz. A diferença entre "de" e "dos" está no fato de que, enquanto a segunda significa "se retirar de todos os territórios", a primeira quer dizer "de parte, ou de apenas alguns dos territórios". Na prática, isso foi feito quando Israel se retirou de parte dos territórios após os Acordos de Oslo, em 1993, entregando-os à administração da Autoridade Palestina. Mas a AP quer todos os territórios e não partes deles. A Resolução 242 prevê ainda que a retirada deva ser feita, por negociações, "com o término de todas as reivindicações ou estado de beligerância, respeito e reconhecimento da soberania, integridade territorial e independência política de cada Estado na região e seu direito de viver em paz dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, livres de ameaças ou atos de força".

Szyja Lorber, professor de Geografia, História e Estudos Sociais, é jornalista e especialista em conflitos do Oriente Médio.

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