Quando Henry Ford massificou a produção de veículos, desejava entregar às pessoas um meio de transporte individual e motorizado que trouxesse mobilidade por um valor mais acessível. Com a ideia da linha de produção, Ford possibilitou que qualquer produto pudesse ser montado de forma seriada, colocando a engenharia a serviço do consumo e trazendo emprego para grande parte da população. Mas a solução para mobilidade apresentada por Ford não previa efeitos colaterais, como emissão de gás carbônico na atmosfera, congestionamentos e acidentes de trânsito.

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Na história da evolução da sociedade, de tempos em tempos, conforme surgem os problemas, soluções aparecem em grande número, em diversos pontos do planeta e com enfoques diferentes. A visão de um pesquisador alemão é diferente da visão de um pesquisador chinês e ambas estão relacionadas ao ambiente em que vivem. Porém, estas soluções, estudadas e pensadas em departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento, divulgadas em congressos, simpósios e revistas especializadas ao redor do mundo, precisam ser interessantes do ponto de vista econômico; afinal de contas, é assim que o mundo funciona. Ideias viáveis financeiramente são implementadas com maior facilidade.

Em Curitiba, apesar do BRT, o modelo fordiano de produção ainda está enraizado na economia

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Na Alemanha, por exemplo, a cidade de Bremen ganhou o Prêmio de Mobilidade Urbana Sustentável (Sump) 2014, concedido pela Comissão Europeia para o Transporte, por apresentar como solução de mobilidade um sistema que prevê o uso de bicicletas e carros compartilhados, que podem ser retirados e entregues em diversos locais da cidade, conhecido como car share. Atualmente, 60 estações estão espalhadas pela cidade e a previsão é de que haja 80 delas até o fim do ano. Para tanto, a mentalidade e economia da cidade foram modificadas. Enquanto as lojas oferecem estacionamento para bicicletas, e não carros, as escolas se encarregam de mudar a mentalidade das crianças. Normas de construção exigem que todo edifício tenha garagens especiais para meios de transporte não poluentes e o marketing da cidade foi construído com base no lema Use it, don’t own it (use, não possua). Um exemplo de solução que funciona desde que apoiada por diversos setores da sociedade em que foi implantada.

Na Universidade de Michigan, nos EUA, o projeto Sustainable Mobility and Accessibility Research and Transformation (Smart) trata de pesquisas para a mobilidade e acessibilidade que englobam desde o uso de combustíveis de fontes limpas até o investimento em novos negócios, de parceria público-privada. São opções que oferecem mais possibilidades de escolha para o transporte e que paralelamente geram novos empregos, permitindo a transição do modelo econômico anterior, baseado no consumo, para um novo modelo de economia sustentável.

Glen Weisbord, presidente do Economic Development Research Group, de Boston, e autor do artigo “Impacto econômico do investimento em transporte público: a experiência americana e sua aplicabilidade”, apresenta um estudo que comprova que os investimentos em transporte público podem gerar mudanças nos postos de trabalho, geração de novos empregos, aumento da renda e diminuição de custos em diversos setores da economia. Apesar das despesas, dados demostram que para cada US$ 1 bilhão investido em transporte público nos EUA, existem US$ 2 bilhões de valor agregado ao PIB, incluindo US$ 1,8 bilhão em salários que suportam mais de 41 mil novos postos de trabalho.

Em Curitiba, apesar do excelente modelo de transporte público implantado há mais de 40 anos, o chamado Bus Rapid Transit (BRT), o modelo fordiano de produção ainda está enraizado na economia. As montadoras movimentam o mercado há mais de 50 anos e várias pequenas empresas cresceram neste período produzindo acessórios, peças e equipamentos para abastecer grandes fábricas. O número de veículos aumentou exponencialmente e, como resultado, temos dificuldade para respirar e para chegar ao destino final todos os dias. Além disso, o Paraná encontra-se entre os dez estados brasileiros com maior número de óbitos no trânsito – 40% das mortes são de pedestres.

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Para mudar esta realidade, a cidade estuda maior integração de modais, implantação de vias calmas e até mesmo o bloqueio de determinadas ruas no Centro da cidade para evitar o elevado fluxo de carros. Para tanto se fazem necessários investimentos para capacitação e geração de novos empregos no setor, campanhas que priorizem o transporte coletivo e de mecanismos que não permitam que esses projetos não se percam nas gestões seguintes.

Adriana Regina Tozzi Pontoni é coordenadora geral do curso de Engenharia Civil do UniBrasil Centro Universitário.