Iniciadas as reflexões de fim de ano, percebe-se que 2013 teve especial atenção no campo da temática urbana. Na esfera nacional, as manifestações do mês de junho, instadas pelo aumento do preço da tarifa do transporte, tiveram impacto inédito na agenda das principais cidades do país, e por extensão, no centro das decisões do governo federal.
Os reflexos na esfera local proporcionaram a Curitiba, velha conhecida dessa temática urbana, o compromisso de investimentos inéditos, seja no montante de capital a se investir, seja no conteúdo das propostas, a financiar parte da primeira linha de um sistema de metrô na cidade. Não se trata de uma notícia qualquer. Nota-se que a referida linha vem a substituir o atual sistema BRT, formado pelas canaletas exclusivas de ônibus do Sistema Estrutural norte-sul, sistema que desde 1974 vem se desenvolvendo e que é responsável por boa parte do sucesso da cidade na área do planejamento urbano. Uma vez confirmados os investimentos, parecem prudentes algumas ponderações.
É fato que o acúmulo de automóveis provocou em Curitiba um nítido processo de congestão, com consequências diversas. A primeira, e mais ineficaz, é a pressão pública de parte dos usuários por mais espaço para o automóvel. Ruas maiores significam mais carros, e simplesmente aumentam o problema. A segunda é ambiental. Automóveis emitem gases tóxicos de extremo perigo para os seres humanos e para o equilíbrio do planeta. Mais automóveis correspondem a mais poluição. A terceira consequência é a perda da proximidade. Mais difícil de observar, diz respeito à perda de uma das características essenciais da vida nas cidades. Mesmo o Império Romano, a despeito da imensidão de seu território, concentrou alta densidade de habitantes nas cidades, a colher os benefícios da proximidade. Assim, vários urbanistas defendem uma cidade compacta, diversa, densa e multifuncional.
Existe, porém, uma incompatibilidade entre a velocidade do automóvel e o ritmo lento do caminhar do ser humano. Com o acúmulo de automóveis, as principais ruas se constituem em barreiras de difícil transposição aos pedestres. Convido o leitor a caminhar pela cidade e, como pedestre, atravessar ruas e sentir no corpo a dificuldade e o perigo.
Sob este contexto, o investimento em um sistema de transporte de alta capacidade como o metrô ganha relevância. Entretanto, defende-se que o foco da discussão deve ser o ganho ambiental que o novo sistema deve proporcionar: devolver a superfície da cidade ao pedestre. Sobre o metrô, cria-se um longo parque linear a cruzar a cidade, com calçadas e ciclovias, a revigorar um setor esquecido do Centro e conectar a vida na superfície. É fundamental a integração com o restante do sistema de transporte, que deve ser aprimorado e proporcionar mais qualidade ao usuário, de modo a irrigar o novo modal, e intensificar o Setor Estrutural como a espinha dorsal do desenvolvimento de Curitiba. O automóvel pode contribuir para alimentar o sistema, mas com rígido controle do seu espaço, velocidade e poluição.
Fabiano Borba Vianna, doutorando e mestre em Arquitetura e Urbanismo pela USP, é professor na PUCPR.
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