As eleições regionais francesas mandaram um forte recado para a classe política, uma mensagem que atravessa suas fronteiras. A força da moderação saiu vitoriosa das urnas e mostra que os radicais começaram a perder tração. Tanto na esquerda como direita, a polarização começa a perder força na medida em que o quadro político se reorganiza. Esta é uma realidade que começa a se impor na Europa e que em breve pode chegar a terras brasileiras.
A extrema-direita, que vinha em linha ascendente e chegou a disputar o segundo turno presidencial, refluiu de forma intensa. Perdeu dez pontos que se deslocaram de volta para a tradicional centro-direita. Os papéis se inverteram, com a direita moderada e conservadora reassumindo sua liderança política e a extrema-direita populista gravitando como mera coadjuvante do processo eleitoral.
A tendência observada na França se assemelha ao movimento político de distensão já visto nos Estados Unidos com a vitória de Biden, com os políticos tradicionais voltando ao jogo político, deslocando os outsiders, vencedores do último ciclo eleitoral. O Brasil já mostrou sinais que pode seguir pelo mesmo caminho diante dos resultados das eleições municipais de 2020.
Tudo leva a crer que a safra de outsiders que chegou ao poder em tempos recentes já começou a refluir, abrindo espaço para a política profissional, que aos poucos começa a voltar para a arena eleitoral com importantes vitórias. A pandemia e os desacertos na economia estão cobrando caro de políticos inexperientes na condução de medidas sanitárias que protegessem suas populações.
A moderação francesa é um sinal político importante e robusto, mostrando que os novos ventos que surgiram nas eleições americanas cruzaram o Atlântico e começaram a se estabelecer na Europa. Em tempos de política polarizada, não deixa de ser uma excelente notícia. Ao enxergar os polos políticos mais perto do centro, a capacidade de convergência se torna maior e os riscos institucionais, menores.
O grande perigo para as democracias governadas por outsiders está nos riscos de questionamento do processo eleitoral, assim como ocorreu no Peru, na Armênia e nos Estados Unidos. Se os países não tiverem instituições fortes, capazes de fazer valer o resultado das urnas, o processo democrático pode entrar em xeque. Por serem estranhos ao jogo político, os outsiders podem tentar subverter as regras democráticas para tentar prolongar sua estada no poder – um caminho que precisa ser evitado.
Para além disso, o recado francês é que existe caminho longe da polarização e que as forças políticas, tradicionais e bem organizadas, podem virar o jogo. Macron e Le Pen dificilmente irão reeditar o segundo tuno da última eleição presidencial. Ele já deixou de ser novidade e ela perde tração na medida em que a centro-direita se reposiciona e resgata seu eleitor, arrependido de escolhas no último processo eleitoral. É, sobretudo, um recado claro de que a população está cansada de escolher por exclusão e que chegou o momento de retornar a política para as mãos daqueles que sabem como conduzi-la, de forma equilibrada, ponderada e moderada.
Márcio Coimbra, cientista político e mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (Espanha), é presidente da Fundação Liberdade Econômica. ex-diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal e coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares