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Fundada em 1994, a ADF é uma organização jurídica sem fins lucrativos “comprometida em proteger a liberdade religiosa, a liberdade de expressão, os direitos dos pais e a santidade da vida”
Imagem ilustrativa.| Foto: Bigstock

"Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu: tempo de guerra e tempo de paz."
(Eclesiastes)

Em uma troca de mensagens em um grupo do qual faço parte, um dos participantes argumentou que não deveríamos defender nossas posições e crenças de maneira firme, decisiva e apaixonada; que o ideal seria argumentar, ponderar, promover a “dialética” (nas palavras dele). Acredito que em nosso legítimo desejo de promover o diálogo e a tolerância, em nossa busca pela dialética, aqui referida como a arte de debater, de persuadir, não devemos esquecer que algumas questões exigem respostas firmes e inequívocas, talvez até “apaixonadas”. Devemos manter (e manifestar com muita clareza) nossa indignação contra a opressão, a discriminação, a corrupção e todas as formas de injustiça que afligem nossa sociedade. A alternativa é vergonhosa!

Entendo a importância do diálogo e concordo que a polarização e o extremismo podem não ser o caminho ideal para resolver diferenças. Todavia, há diferenças que são irreconciliáveis. Eu, por exemplo, não consigo reconciliar minha radical aversão ao lulopetismo, e tudo o que representa, com o meu desejo de diálogo e pacificação. Entendo, claro, que o diálogo é elemento essencial para uma sociedade civilizada e um ambiente de discussão construtiva, mas é impossível dialogar com quem causou tanto mal ao nosso país. É impossível contemporizar com uma ideologia cujo tenebroso histórico de morte e destruição é sobejamente conhecido e que nenhuma sociedade, em sã consciência, aceitaria. Imaginar que o diálogo com os que a defendem seria possível é o mesmo que acreditar que a natureza do escorpião (como na fábula O Sapo e o Escorpião) pudesse ser mudada.

Desconfio que a omissão dos cristãos seja um fator muito importante na vitória do mal. A moderação é importante, com certeza. Mas é vital manter e expressar nossa indignação contra as injustiças.

Acredito que a moderação não deve ser confundida com apatia, indiferença ou complacência diante das injustiças que persistem em nosso mundo. Espero que cheguemos à paz, mas não sei se será pelo diálogo. Historicamente, o caminho da paz passa, necessariamente, pela guerra. Afinal, que alternativa temos se não a guerra para enfrentar aquele que quer nos subjugar, explorar e destruir? Lembremos de Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão do século passado e pacifista de carteirinha, ao menos até entender que era legítimo dar um basta nas horrendas e criminosas práticas de Hitler e seus asseclas. Pagou com a vida. Otto Thorbeck, um juiz nazista a serviço da SS, mandou executar os presos políticos presos em Flossenbürg, onde Bonhoeffer se encontrava, duas semanas antes de o campo ser liberado pelos aliados. E não podemos deixar de lembrar que o pacifismo vergonhosamente subserviente de Chamberlain quase levou o Reino Unido, e o Ocidente inteiro, para o abismo.

Quando leio as tépidas defesas do “diálogo pacífico”, do “contraponto”, da “moderação”, da “contemporização”, não consigo deixar de lembrar daquele episódio dos cambistas, retratado no Evangelho de João, Cap. 2 e do trecho de Apocalipse 3:15-16. Ambos me parecem ser uma chamada para a ação, para nos posicionarmos com clareza e determinação quando testemunharmos a injustiça. Até por que, o diálogo entre luz e trevas é impossível. Não se pode contemporizar com o escorpião. Que o diga o sapo!

Estou convencido de que o que estamos vivenciando hoje, deve-se, em parte, à apatia, à omissão, a um preciosismo religioso irrealista, a um pacifismo doentio e a uma noção equivocada de muitas pessoas, entre elas evangélicos, povo do qual faço parte. Desconfio que a omissão dos cristãos seja um fator muito importante na vitória do mal. A moderação é importante, com certeza. Mas é vital manter e expressar nossa indignação contra as injustiças. A graça não nos isenta de agir contra o mal e de lutar pela justiça. Jesus nos deu o exemplo. Devemos ser como ele, mantendo a graça em nossos corações, mas não permitindo que ela nos torne complacentes diante do sofrimento humano, da opressão e da injustiça.

Portanto, enquanto buscamos o diálogo e a compreensão mútua, não podemos perder de vista nossa responsabilidade de defender os valores e princípios que acreditamos serem justos e corretos. A moderação não deve nos silenciar, mas sim nos inspirar a ser agentes de mudança e a lutar por um mundo melhor, onde a graça e a justiça andam juntas. Devemos lembrar que a mudança real muitas vezes vem daqueles que se recusam a aceitar o status quo e que têm a coragem de falar e agir contra o que é moralmente inaceitável.

Assim, ao mesmo tempo em que promovemos o diálogo e a compreensão mútua, não podemos renunciar ao nosso dever de sermos defensores apaixonados e veementes dos valores que consideramos justos e éticos. A sabedoria está entre o equilíbrio de sermos moderados em nossa abordagem, mas apaixonados em nossa busca por um mundo mais justo, onde a graça e a justiça coexistam e prosperem.

Finalizo com uma paráfrase de um discurso de Churchill: “Persistiremos até o fim. Combateremos a corrupção, resistiremos à ditadura, defenderemos a verdadeira democracia e lutaremos com determinação e força crescentes em defesa de nossa nação, nossas famílias, nossos valores e nossa liberdade” e um trecho da Divina Comédia, de Dante, na parte em que se refere ao Inferno: “Os lugares mais escuros do inferno são reservados àqueles que mantêm sua neutralidade em tempos de crise moral”.

Rubens C. Lamel é executivo de negócios internacionais e presidente do Instituto Soberania.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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