A greve das instituições federais de ensino superior (Ifes) encontra-se num momento difícil e decisivo. Difícil, pela intransigência do governo Dilma, que se recusa a reabrir as negociações com o Andes-SN. A postura do Andes-SN tem sido de flexibilização, readequando sua proposta; mesmo assim, o governo não responde a tal iniciativa e continua afirmando que não reabrirá negociações de salário, carreira e condições de trabalho, já que enviou para o Congresso a Lei Orçamentária e ameaça, caso os deputados alterem a proposta, arquivar a mesma, já que o Legislativo não pode mudar a parte financeira do projeto.
O secretário de Ensino Superior do MEC, Amaro Lins, já disse, em entrevistas, entender a continuidade da greve como uma provocação dos professores, que querem o confronto com o governo. E ainda elogiou o Proifes, dizendo "que houve um sindicato sensível que assinou o acordo garantindo o ganho a todos os professores das Ifes". Repete-se o ocorrido em 2007, quando esse mesmo sindicato, criado por influência do governo e oficializado na sede da CUT, em São Paulo, veio para dividir a categoria docente e colaborar com o governo nos momentos de impasse das greves, já que o Andes-SN sempre foi um sindicato combativo e, por isso, passou a ter ascendência sobre a maioria absoluta dos professores (95%), que o legitimam pelas assembleias de base; já o outro sindicato faz consultas eletrônicas e detém apenas 5% da base docente nas 59 Ifes.
Nesse posicionamento do secretário da Sesu fica claro que a questão não é a falta de recursos, mas o acordo feito com o sindicato "capacho". Enquanto a base, mesmo minoritária, mantiver esse sindicato pelego, vamos ter problemas futuros em nossas reivindicações. Dessa realidade podemos tirar uma lição: se o governo nos dobrar agora, ele consegue dois objetivos: enfraquecer o Andes-SN e fortalecer o Proifes; e enviar uma lei antigreve draconiana para o Congresso Nacional, dificultando futuras greves fortes como a nossa.
O governo, agora, aposta na intervenção dos reitores com o restabelecimento dos calendários e na nossa divisão na base, em que muitos professores, cansados, sem ver perspectivas, acabam aceitando a tese do governo de que não haverá negociação e de que não adianta continuar com esta greve. Neste sentido, o quadro mudou na última semana, com grandes universidades deixando a greve, o que contribui para o enfraquecimento do movimento nacional. A decisão se baseia na intransigência do governo em negociar.
Este é um governo com dois pesos e duas medidas: para a universidade pública, a intransigência; para os banqueiros, a benevolência, doando 47% do orçamento da União para o pagamento de juros da dívida pública; para os empresários, a doação de R$ 132 bilhões para o PAC das Concessões, que o maior empresário brasileiro, Eike Batista, batizou de "kit felicidade".
Não havendo sinais de reabertura de negociações e para preservar o apoio da sociedade e garantir a respeitabilidade que o Andes-SN conquistou, é necessário pensar em uma suspensão unificada da greve, garantindo assim o acúmulo de forças para futuros embates, caso o governo não cumpra a promessa de instalar Grupos de Trabalho para tratar das questões não negociadas, como as condições de trabalho e a reformulação da carreira docente, ainda mais desestruturada com o projeto de lei enviado pelo governo ao Congresso Nacional.
Lafaiete Neves é professor aposentado do Departamento de Economia da UFPR.
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