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Em qualquer país com maior maturidade institucional as candidaturas de Sergio Moro e Deltan Dallagnol a qualquer cargo público seriam natimortas, condenadas ao museu de celebridades meteóricas vazias de sentido e significado que representa nossa frágil democracia. Tal destino não seria a eles tão merecidamente reservado apenas pela verborragia barata e psitacismos que tecem em grande quantidade – como por exemplo apresentou tão generosamente o ex-juiz curitibano recentemente, repleto de jocosas platitudes, quando ponderou que o problema da miséria é a falta de emprego, ou que a solução para a educação no país é adotar o ponto de vista do aluno, um vazio de ideias que é inaceitável para quem pleiteia fazer parte do poder Executivo e Legislativo.
Esse não é o maior problema. Nosso risco é que Moro é o autêntico representante do Estado Tecnocrático, alguém que crê que uma elite burocrata, ou uma elite de magistrados, pode resolver todos os problemas do país, ou pelo menos os mais graves. Para a fome? Uma agência de especialistas. Para a educação? Um time de técnicos. Para combater a corrupção? Uma corte de magistrados brilhantes.
Repare: quantas vezes você ouviu Moro falar sobre a liberdade individual, sobre a liberdade de expressão, sobre o limite da ação do Estado na vida do indivíduo? Nenhuma! O fato é que, no Brasil, o aumento do poder público – não sua presença inteligente, mas o seu direito de impor e determinar – não cessou nos últimos 30 anos, crescendo em um ritmo acelerado e descontrolado em que o Estado se posiciona em todas as esferas de soberania privada.
É a ideia de uma aristocracia não genuína, formada por pessoas que capturam o Estado construindo o mundo, como alertou Juan Goytisolo, à medida de suas ideias e não de acordo com a realidade. São os que possuem as chaves para responder todas as questões, formando um grupo que se acha superior ao entendimento comum, que definem como você deveria viver, que esvaziam o conceito de cidadão autônomo para apontar a uma massa de administrados, um agregado de indivíduos obedientes à técnica retirando do indivíduo o poder de escolha, invadindo todos os círculos privados, destruindo a livre iniciativa e a liberdade. É portanto, líder de uma forma de governo utópica, a techné (técnica) com a crátos (força), a força da técnica sobre a nossa liberdade.
E qual é o problema? O problema é que todo controle estatal ou burocrata nunca é projetado para beneficiar o cidadão comum, mas sempre é útil para criar instrumentos de coerção com objetivo de legitimar e perpetuar uma nova elite dirigente, um regime oligárquico sustentado pela lei e pela técnica a partir de princípios nobres, mas que para atingi-los irá aumentar o estado de coerção e reduzir a liberdade de forma direta, indireta e multiaxial.
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E é essa democracia, centralizadora, regulamentadora e absolutista que Moro apoia, e por isso ele é a própria incubação da tirania, pois, como lembra Jose Pedro Galvão de Souza, a mais séria ameaça ao mundo é a ditadura burocrática.
Um projeto sério de país não submete o homem ao Estado, mas o Estado ao homem. Não pode apoiar ou fundamentar um plano de nação em um constante e contínuo intervencionismo estatal que viole a espontaneidade social, promovendo uma inversão de valores.
Moro é o grande representante do que há de pior na burocracia brasileira. Oportunista, carreirista, foi um político inexpressivo, omisso e incompetente, dono de um perfil psicológico que pretende salvar o Brasil pela divinização de sua existência particular e pela imposição de sua lei, como uma nova ordem da sociedade, dispondo-se a aumentar todos os instrumentos de coerção para que sua visão de mundo seja atingida, um modelo que a história já provou ser perverso.
Um governo de Moro, portanto, é a maior e mais grave ameaça ao país; é permitir que a imensa máquina burocrata não só invada as instituições democráticas, mas perpetue seu monopólio de maneira a destruir a liberdade concreta dos homens e de promover a estatização da vida. É a realização do passaporte político-sanitário, uma eugenia política que irá separar quem pode opinar sobre assuntos públicos e quem lá não pode entrar, apenas exercer seu direito de obedecer. É definitivamente retirar nossa liberdade política e afundar a chance de prosperidade de gerações futuras, selando um modelo em que nosso único direito será obedecer sem questionar.
Arthur Machado é empresário na área da educação e fundador da Associação Semeadora.