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Mortes de policiais: escassez de coletes balísticos não pode ofuscar discussão sobre qualidade

Imagem ilustrativa. (Foto: Divulgação / PMPR)

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A implementação de câmeras nas fardas policiais tem provocado polêmica tanto dentro como fora do meio policial. Um dos argumentos utilizados por aqueles contrários a essa estratégia é o de que o poder público mal consegue oferecer a proteção mínima aos agentes de segurança: sabemos que parte das forças de segurança brasileiras não tem acesso a colete balístico.

Um dos muitos exemplos desse debate foi uma declaração do coronel Alexandre Mendes, que é comandante geral da Polícia Militar de Mato Grosso, em fevereiro. Ele afirmou, em entrevista à imprensa, que “tem estado comprando isso [câmeras] enquanto o policial não tem colete".

Ao ressaltar a preocupação com a ausência de coletes balísticos, item essencial para a proteção dos agentes de segurança, o comandante trouxe à tona uma discussão extremamente relevante: em um país onde a disponibilidade de recursos para equipamentos de segurança nas polícias é finita, é preciso escolher onde melhor investir.

De acordo com o Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil registrou 47.847 homicídios em 2021. Desse total, 33.039 foram causados com armas de fogo, o equivalente a 15,4 por 100 mil habitantes, 69,1% do total de homicídios no país.

Levando esse foco para as vítimas policiais, conforme os dados da 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2022, 173 policiais foram assassinados no país, ante 133 homicídios ocorridos em 2021 (nem todos os estados enviaram dados completos para a elaboração da pesquisa). O estudo também destacou que 7 em cada 10 agentes foram mortos durante a folga. Isso evidencia a importância de as instituições considerarem maneiras de garantir a segurança desses profissionais mesmo quando estão fora do serviço, seja facilitando o acesso ou disponibilizando coletes para eles.

Para enfrentar ou reduzir esse problema, é claro que ter um colete à disposição é melhor do que não ter nenhum. Mas, se quisermos efetivamente salvar mais vidas de policiais, precisamos discutir como essa proteção está sendo oferecida. Para atender a todos os requisitos essenciais de segurança, é necessário um produto que apresente robustez, para garantir que o colete possa aguentar impactos e distribuir a energia resultante de maneira eficaz, durabilidade, para suportar condições adversas, como desgaste e exposições a elementos ambientais, flexibilidade, para permitir a mobilidade do usuário, e, evidentemente, um elevado nível de proteção.

As normas também são outro importante foco que garantam a devida proteção dos policiais. Dentro desse contexto regulatório, destaca-se a NIJ Standard 0101.07, uma revisão normativa promovida pelo National Institute of Justice dos Estados Unidos, que se consolida como uma referência internacional em matéria de proteção balística. O projeto, inclusive, incorpora uma seção dedicada a testes e certificações de vestimentas balísticas destinadas especificamente a agentes femininas.

Os coletes policiais são confeccionados atualmente com as chamadas fibras para-aramidas. Esse material foi inventado em 1965 pela cientista Stephanie Kwolek, da multinacional DuPont. Batizado de kevlar, o material passou por evoluções ao longo das últimas décadas que ofereceram um maior desempenho ergonômico, permitindo que se ajustasse confortavelmente ao corpo do usuário, proporcionando flexibilidade e leveza sem comprometer a proteção.

A questão é que há coletes e coletes. Como a norma mais adotada no Brasil para coletes balísticos não é tão rígida como a de outros países, seja por adotarem versões mais atualizadas, outras normas ou elegerem requisitos adicionais para a confecção desses equipamentos de proteção, agentes de segurança não só sofrem com a escassez de coletes, mas com produtos que, indubitavelmente, podem não oferecer o que há de mais atualizado em termos de robustez, confiabilidade e ergonomia.

A seleção criteriosa de coletes balísticos adequados é um elemento crucial na preservação da vida dos profissionais de segurança. Em um contexto em que a segurança dos policiais é de suma importância, a tomada de decisão consciente das corporações na escolha desses equipamentos pode desempenhar um papel determinante, pois não apenas assegura a integridade física, mas também representa a potencial preservação de inúmeras vidas durante o desempenho diário de suas funções.

Marcelo Borges Almeida da Fonseca é engenheiro militar, especialista em materiais e líder de Negócio Defesa da multinacional DuPont para a América Latina.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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