Uma recente declaração, que afirmava que "mulher é inteligente e, por isso, não vota em mulher", reflete um preconceito profundo sobre o papel das mulheres na política. Esse tipo de afirmação ignora as barreiras estruturais que, historicamente, têm dificultado a ascensão feminina ao poder.
No Brasil, as mulheres ocupam apenas 18% do Parlamento, o que coloca o país na 129ª posição mundial de representatividade feminina. Estamos entre os piores colocados na América Latina. Apesar de alguns progressos, esses números estão longe do ideal e evidenciam os desafios estruturais enfrentados pelas mulheres para alcançar posições de liderança política.
A inclusão de mais mulheres no poder é uma estratégia essencial para a construção de um país mais justo e equilibrado
Tal declaração simplifica um fenômeno complexo. As mulheres enfrentam estereótipos e preconceitos que limitam sua participação plena na política. Além disso, o sistema eleitoral favorece candidatos com maior acesso a recursos e redes de influência, dificultando ainda mais o caminho feminino.
Como contraponto a esse tipo de pensamento, é importante destacar os benefícios da liderança feminina. Um estudo realizado na Índia mostrou que distritos com mais mulheres eleitas tiveram reduções nas taxas de mortalidade infantil e melhoria nos resultados educacionais. Durante a pandemia de Covid-19, países liderados por mulheres, como a Nova Zelândia, tiveram um desempenho superior no combate ao vírus, com ações focadas no diálogo e na colaboração.
As cotas de gênero têm se mostrado eficazes para aumentar a participação feminina na política, ajudando a quebrar barreiras tradicionais. No entanto, mais estudos são necessários para entender por que o avanço é tão lento no Brasil em comparação com outros países que adotaram o mesmo mecanismo.
A liderança feminina não deve ser vista como uma exceção, mas como uma questão de eficiência política. Afinal, as mulheres representam metade da população. A presença feminina em cargos de liderança política tem impacto direto na formulação de leis que beneficiam a população como um todo. Estudos indicam que, ao ocupar funções executivas, as mulheres tendem a priorizar políticas voltadas para a paridade de gênero, melhorias na saúde e educação, e outras áreas essenciais para o desenvolvimento social e econômico.
Portanto, em vez de perpetuar visões preconceituosas sobre o papel das mulheres na política, é fundamental focar em debates baseados em evidências concretas. A inclusão de mais mulheres no poder é uma estratégia essencial para a construção de um país mais justo e equilibrado.
Iana Barenboim é sócia da Muva, economista e especialista em Desenvolvimento Socioeconômico.