• Carregando...

Navegar é preciso, seja pela internet ou pela superfície das águas.

Há três anos não levava minha "gang" para aumentar a população a bordo, com o acréscimo de 31 figurantes, desta feita reduzida a dois terços por compromissos anteriormente assumidos.

E pela costa verde-amarela assim estivemos entre a multidão que lotava as dependências do transatlântico Armonia espalhada por seus salões, bares, restaurantes, teatros, shows, boates, cassino, desfrutando o que havia e podia.

De primeiro a unidade nacional, um Brasil com gente de todas as partes, falando a mesma língua, sem sotaques regionais, os nortistas e catarinas moderando seus cantos, para o contraste solitário dos gaúchos a teimarem na segunda pessoa, e tu sabes disso.

De resto o mesmo povo comunicativo e educado, orgulhoso de sua grandeza continental, a cultuar uma identidade de opiniões na franqueza de um estágio que havemos de vencer, na franqueza de um terceiro mundo onde exaltamos nossas virtudes e pranteamos nossos defeitos, sem deixar de concluir com a veterana esperança de um país do futuro. Assim somos, assim continuamos até que a morte nos separe.

Há quem atribua essa uniformidade, além do idioma, ao estilo barroco, à literatura de cordel e ao caráter mais suave dos tupiniquins. Os dois movimentos de nosso passado, um no Nordeste, a Confederação do Equador, e outro no Sul, a Guerra dos Farrapos, foram arroubos separatistas que não vingaram. Uma distinção entre a América Espanhola que, ao heroísmo de Bolívar e San Martín, se dividiu em vários países de ponta a ponta.

Os relatos de viagem atraem pelas novidades que informam, pelas surpresas que desvendam, pelas nuances que singularizam, pelas conversas que devem ser postas em dia, antes que a emoção arrefeça e o esquecimento passe a borracha num lindo trecho que se viveu.

Vou me limitar a três etapas dignas de menção, Arraial do Cabo e Búzios no Rio de Janeiro e Salvador na Bahia. A primeira é uma cidade balneária em expansão feita para um progresso líquido e certo na beleza de suas extensas praias, alvas, planas e sedutoras para o recreio, e a paz. Búzios é uma referência do turismo internacional, a 180 km de Niterói. Cidade privilegiada por uma esplêndida orla marítima, verdadeira moldura para um interior alegre, pitoresco, e notável. Uma delícia percorrer suas ruas bem-traçadas, em meio a uma seara feminina apressada em torno das lojas, a revelar um comércio que nada fica a dever aos mais sofisticados do mundo. Cidade menina faceira e graciosa, flor que desabrocha nos fascínios da juventude.

Na orla sentada e esculturada em bronze, a atriz francesa Brigite Bardot contempla o mar com um olhar absorto de saudade. No interior, defronte a um prédio antigo, Juscelino Kubitschek, sentado e de chapéu na mão, controla os transeuntes. Nessa casa, o presidente recepcionava amigas e admiradoras. Nonô de Diamantina tinha um toque de boemia que o povo gostava.

Encontrei Salvador bem melhor do que tempos atrás. O Pelourinho, recanto histórico imperdível, está recuperado, limpo e bem cuidado. A Igreja de São Francisco cada vez mais esplendorosa, brilhando no ouro de seu barroco impecável, esculpido em paredes e altares, dispensa adjetivos. Visitei dezenas de templos mundo afora e não encontrei algum mais imponente e belo. Uma riqueza capaz de justificar qualquer ida a Salvador, independentemente de outras procuras.

A Bahia é o mais singular estado de nosso país. Pelos gênios que produziu Ruy Barbosa e Castro Alves, pela música, vestes, ritos, culinária, adornos, folclore, em tudo o estado se diversifica.

Nossa guia em sua peroração avisou: "Não falem mal de Toninho Malvadeza. Ele ainda é muito estimado". Outro dia, um motorista expulsou do táxi um indivíduo que assim se referiu ao ex-governador. Parou o carro e mandou que saísse. E, aqui e agora, estamos num local onde a demolição de um viaduto criou o bairro mais feio da cidade. Por tal razão, o povo o apelidou de Maria Bethânia, em "honra" à cantora. E passou a desenrolar jóias do humor baiano: "Quem ri por último é retardado". "Devagar nunca se chega". "Há males que vêm para pior". "Antes tarde do que mais tarde". "Quem espera sempre cansa". "Escreveu, não leu? Então é burro". "Macho que é macho não toma mel, masca abelha". "Dívida para mim é sagrada, Deus lhe pague". "Se os homens são todos iguais, por que as mulheres escolhem tanto?"

A Bahia repara-se também pelo Candomblé. Na suposição de que os negros não tinham alma deixaram de receber qualquer tipo de catequização ao contrário do que aconteceu séculos atrás com os indígenas na instrução religiosa dos jesuítas Manoel da Nóbrega e José Anchieta (1549–1600)

Próximo ao fim da escravidão, chegaram os precursores do Candomblé, que com a abolição foi admitido como seita religiosa dada a liberdade de cultos garantida pela Constituição.

A partir do fim do século 19, houve uma "misturação" total com a Umbanda e outras religiões, inclusive uma corrida para os santos do catolicismo. Entre as divindades do Candomblé, os orixás, Ogun, Deus do Ferro e da Guerra, é Santo Antônio. Xangô, Deus do Trovão, é São Jerônimo. Oxóssi, Deus da Caça, é São Jorge. Omolu, Deus da Doença, é São Lázaro. Iansã, Deusa dos Ventos e das Tempestades, é Santa Bárbara.

Uma interrupção nas lides do dia-a-dia reabilita os músculos, reforça o espírito e fortalece o ânimo. para o batente.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]