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Na educação e na vida, precisamos de resultados mais humanos

(Foto: Ryan 'O' Niel/Reprodução/Unsplash)

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Há estudantes que passam muitas horas por dia em cima dos livros, deixam de socializar, de praticar esportes e até mesmo de dormir de forma adequada para estudar. Normalmente atitudes como essas são celebradas e interpretadas como positivas para a preparação aos exames de acesso ao ensino superior, seja por meio de vestibulares ou Enem. É claro que todos querem alcançar bons resultados e essa jornada exige dedicação e disciplina, mas um importante papel de quem educa é o de equilibrar os estudos e a saúde mental.

Entre os objetivos da escola está a formação de cidadãos capazes de resolver problemas, trabalhar em equipe, argumentar com coerência e coesão, defender e respeitar diferentes pontos de vista e ser, cada vez mais, observadores e críticos de si mesmos e do mundo a seu redor. A Base Nacional Comum Curricular foi o marco legal recente que explicitou de forma corajosa o trabalho com as competências socioemocionais alinhadas à diretriz organizacional de metas de aprendizagem para todas as etapas da educação básica.

Para dar conta da formação integral dos nossos estudantes, para além dos conteúdos formais previstos ao longo da escolaridade, faz-se necessário assegurar a promoção de uma educação socioemocional, nas mais diferentes situações didáticas em que engajamos esses estudantes, dentro e fora da escola. Esse cuidado não é mero detalhe, mas parte indissociável de qualquer projeto de mundo sustentável, porque as pessoas são muito mais que as suas conquistas acadêmicas ou profissionais.

Para ser bom profissional é necessário ser gente boa e do bem! Nesse sentido, cabe a nós, que respondemos por esses jovens – seja na escola ou na família –, trazer para a atribulada rotina dos vestibulandos uma visão mais humanizada do que representa esse momento.

De acordo com a Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning (Casel; “Colaboração para a Aprendizagem Acadêmica, Social e Emocional”, em tradução livre), cinco são as competências socioemocionais que devem ser trabalhadas com nossas crianças e adolescentes: autoconhecimento, autorregulação, habilidades de relacionamento, consciência social e tomada de decisão responsável. Essa organização é referência mundial no avanço da aprendizagem socioemocional.

Cada uma dessas competências deve fazer parte do plano pedagógico dos professores comprometidos com a construção de sentido para o trabalho escolar. A começar pelo autoconhecimento, que envolve a compreensão de cada pessoa sobre si mesma, suas forças e limitações, entendendo esse como o primeiro passo para a promoção humana. A experiência pandêmica deixou ainda mais evidente a necessidade de trabalhar com os estudantes a tomada de consciência sobre aquilo que sentem a partir das relações que estabelecem, como alegria, tristeza, raiva, entre outras emoções próprias da natureza humana e com as quais cada um precisa aprender a lidar ao longo de toda a vida. Todo conteúdo humano é conteúdo da escola.

Para ser bom profissional é necessário ser gente boa e do bem! Nesse sentido, cabe a nós, que respondemos por esses jovens – seja na escola ou na família –, trazer para a atribulada rotina dos vestibulandos uma visão mais humanizada do que representa esse momento. Tanto quanto conhecer-se, eles também precisam aprender a controlar a si mesmos e ter uma rede de apoio – do mundo adulto – em que eles possam confiar. Fazer um gerenciamento eficiente do estresse, controlar impulsos e definir metas saudáveis são tarefas que precisam dessa rede de apoio, com gente que se importa com gente.

Tomemos, por exemplo, a capacidade de ouvir de maneira empática, falar clara e objetivamente, cooperar com os demais, resistir a pressões sociais inadequadas – por exemplo, o bullying –, solucionar conflitos de modo construtivo e ajudar os demais. Tudo isso faz parte da formação proposta pela BNCC, mas, ali pelo fim do ensino médio, muitas vezes parecemos nos distrair com o muito que precisa ser feito e corremos o risco de deixar de lado essas habilidades sociais tão relevantes quanto saber resolver questões de raciocínio lógico.

Até mesmo o distanciamento social, tão necessário em tempos de pandemia, facilita a compreensão do quanto somos dependentes uns dos outros. Colocar-se no lugar do outro, respeitar a diversidade de contextos, culturas e experiências prévias também são maneiras de se tornar um bom profissional. Por fim, urge ensinarmos nossos estudantes a tomar decisões responsáveis para si, para a sociedade e para o planeta que nos acolhe. Das questões ambientais às políticas, dos dilemas práticos aos que se relacionam à natureza humana e toda a sua complexidade, devemos prepará-los para, mais que ser, ser no mundo.

Acedriana Vicente Vogel é diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.

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