| Foto: /

Todos os anos, as empresas de ônibus de Curitiba e região metropolitana recebem uma enxurrada de críticas, muitas improcedentes e algumas até por motivos que não lhes competem. Em ano eleitoral, o volume aumenta, pois o transporte – junto com saúde, educação e segurança – é um dos assuntos principais e, entre candidatos, vira promessa de um e vidraça de outro. Portanto, muitas inverdades são ditas nesse período. A mais recente acusação no ar se refere a um suposto benefício das empresas com as paralisações do sistema.

CARREGANDO :)

Ora, em um dia de greve, as empresas têm um prejuízo que gira em torno de R$ 2 milhões. O comércio da cidade perde cerca de R$ 200 milhões. E muito mais grave do que esses números é o incalculável prejuízo às pessoas. Nas paralisações, até hospitais infantis têm de cancelar cirurgias porque diversos profissionais não conseguem chegar ao trabalho. Ninguém é insensível a isso. Fazer essa conexão entre a greve e um suposto benefício das empresas é, para dizer o mínimo, insultante, recurso de quem quer se aproveitar da situação em vez de analisar as raízes do problema.

As empresas não querem paralisações – querem apenas prestar o serviço e receber o valor justo por ele

Publicidade

A necessária intervenção nas empresas

As greves de motoristas e cobradores do transporte coletivo são popularmente conhecidas como “greve de ônibus” – termo impreciso, pois os ônibus não fazem greve. Greves são ações de trabalhadores, que cruzam os braços para forçar uma negociação com os patrões

Leia o artigo de André Castelo Branco Machado, historiador

As recentes paralisações do sistema de transporte têm em sua origem a defasagem da chamada tarifa técnica. Em Curitiba, existem duas tarifas: até domingo, o passageiro pagava R$ 3,30 e as empresas recebiam R$ 3,08 – já descontados o ISS e a Taxa de Administração da Urbs. Cabe às empresas somente a discussão da sua remuneração. Quem define quanto o passageiro vai pagar na catraca é o poder público. Em muitas cidades, o usuário paga menos do que o valor repassado às empresas, pois a prefeitura coloca subsídio no sistema – por decisão de política pública, isso não ocorre em Curitiba.

O contrato de concessão do sistema de transporte prevê que a tarifa técnica seja recalculada sempre em 26 de fevereiro. Nesse dia, cada item que compõe a planilha de custo é reajustado, de acordo com uma fórmula estabelecida no edital de licitação, e é feita uma projeção de passageiros pagantes para o ano. Em resumo, o custo total do transporte é dividido pela projeção do número de passageiros. Se a projeção não se realiza, não cobre o custo. E é isso o que vem ocorrendo.

De fevereiro de 2015 até janeiro de 2016, por exemplo, em média 1 milhão de passageiros por mês que estavam projetados para embarcar nunca entraram nos ônibus. Isso significa que cerca de R$ 3 milhões não foram arrecadados por mês, embora o custo de operação se mantivesse o mesmo. É como se você fosse dono de um restaurante e servisse 50 pratos por dia a um custo de R$ 20 cada (R$ 1 mil no total), mas só 30 pessoas pagassem a refeição (R$ 600). Ou seja, prejuízo diário de R$ 400.

As empresas não deixaram de pagar seus colaboradores porque queriam que eles fizessem greve – elas já têm prejuízo com um contrato que não vem sendo cumprido e uma demanda de passageiros projetada que não se realiza, e ainda vão promover uma paralisação para perder mais? Não pagaram porque não tinham recursos, devido a uma despesa maior que a receita do sistema.

Publicidade

Na greve não há vencedores. Ela não traz benefícios e jamais pode ser considerada uma finalidade. As empresas não querem paralisações – querem apenas prestar o serviço e receber o valor justo por ele.

Maurício Gulin é presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp).