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Na idade da lenha

No seminário Florestas Energéticas realizado no Parque Tecnológico de Itaipu, técnicos brasileiros, paraguaios e argentinos debateram a sustentabilidade e segurança energética da região trinacional, já considerada importadora de lenha e concluíram que são necessárias medidas urgentes para evitar um apagão florestal, que comprometeria o desenvolvimento atual e futuro. Não se instala uma floresta do dia para a noite, e o convívio com lenha escassa e cara precisa ser evitado.

As regiões com solos e clima favoráveis são muito produtivas e dão safras de grãos o ano todo. Forram-se barracões de soja e milho, com capacidade industrial para transformá-los em carnes, leite e derivados. A energia é um dos principais insumos desse setor. Um abatedouro de 200 mil aves/dia, gasta perto de R$ 20 milhões por ano em energia elétrica e diesel. Considerando energias como a lenha, a situação é ainda mais dramática, pois a regularização da oferta depende de atitudes do próprio setor. Para secar uma tonelada de milho são necessários 50 quilos de lenha. Por tonelada de soja, 15 quilos; e por tonelada de frango, 84 quilos. No Paraná, o complexo proteínas (carnes e lácteos) consome quase 425 mil toneladas de lenha ao ano.

Um conjunto de fatores provocou a escassez: o ganho de escala e de produtividade, com crescimento agroindustrial correspondente, determinou extraordinária alta dos preços das terras indexados aos preços da soja. Também colaborou a falta de iniciativa de uso de outras fontes de energia disponíveis, como o biogás. Soma-se isso ao fundamentalismo ambiental que chegou a considerar o eucalipto espécie regulada para corte e ainda o conceito de "floresta de uso múltiplo", que considera florestas maduras as cortadas com 11 anos. Tudo isso gerou a ameaça florestal energética de hoje. Para vencê-la é necessário reconhecer a sua existência sem medo e sem querer encontrar culpados. O apagão não tem dono e ocorre nos três países.

Será também necessário adotar uma estratégia para ajustar a matriz energética do agronegócio. Um plano de gestão territorial que aperfeiçoe a logística num mesmo espaço territorial, ligando as unidades consumidoras aos potenciais fornecedores. Pode-se plantar também de forma descentralizada, complementando a oferta dos maciços florestais atuais. Para não perder terras com aptidão para produção de grãos, pode-se usar Terras de Vocação Florestal ou mesmo plantar no conceito de Integração, Lavoura, Pecuária, Florestas. Clones precoces de eucalipto em sistemas de plantio adensados com fertirrigação ajudariam a dar velocidade à produção.

Um plano de fomento específico, garantindo preço mínimo para a lenha pode estimular a segurança dos investimentos. A regulação necessária já existe, pois o governo do estado do Paraná, pelo Decreto 6.883/2012, criou a Política de Florestas Plantadas e a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) criou o Departamento de Florestas Plantadas (Deflop).

Os participantes do seminário no Parque Tecnológico de Itaipu decidiram constituir um Comitê Internacional Permanente para manter a discussão de florestas energéticas regionais, respeitando as soberanias nacionais, para a troca permanente de informações como uma estratégia possível e necessária.

Cícero Bley Jr, engenheiro agrônomo, é superintendente de Energias Renováveis da Itaipu Binacional e representante do Brasil na Agência Internacional de Energia (AIE).

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