Você pode pagar por seus serviços diretamente, ou pode dar seu dinheiro para um político pagar por você. Particularmente, creio que terei uns caraminguás a mais no fim do mês se eu gerenciar minha própria carteira. Os adolescentes do Movimento Passe Livre preferem o modelo “gratuito”, em que Lula, Cunha, Maluf, Renan, Collor e tutti quanti cuidam da minha carteira por mim. Cada um com suas preferências – só não creio que deva ser obrigado a também dar meu dinheiro para políticos; o MPL que faça doações.

CARREGANDO :)

Raras pessoas sabem explicar, em economês, a desgraça que é o passe livre, mas a população, instintivamente, não comprou a ideia (nem em 2013, trazendo todas as pautas para a rua, exceto o passe livre). Carteira é instinto.

Uma sociedade “sem tarifas” era chamada de comunismo. O nome ficou brega após 1989, e quem o lembra é acusado de “viúva da Guerra Fria”. Não acuse totalitários, ou será chamado de radical extremista.

Publicidade

Uma sociedade “sem tarifas” era chamada de comunismo

No entanto, não é o único lado anacrônico do passe livre: todo o seu discurso e sua estética recendem a naftalina. Jovens revoltados comportam-se com os preconceitos de nossos bisavós. Repetem sobre “repressão” da polícia a cada confronto, como se fossem os únicos com direito sobre as ruas. Seu perfil no Twitter é abarrotado de linguagem velha, como “fim do direito à livre manifestação” ou “banho de sangue” (sic).

É a geração Merthiolate-Que-Não-Arde. Jovens cuja grande consciência é lotar uma avenida por algo que não sabem como funciona, considerando-se heroicos quando bombas de gás, feitas para abrir o caminho sem ferimentos, obrigam-nos a andar para a calçada. O trabalhador, enquanto isso, está preso no trânsito. O sonho mais baixo é o heroísmo de turba enfurecida.

Um, digamos, intelectual que defende a manada, o professor da USP Pablo Ortellado, afiança que em 20 anos de protestos sempre é a PM que começa com a violência. O vitimismo para inglês ver ignora que São Paulo teve, apenas no ano passado e apenas no Centro, 900 manifestações – umas três por dia. E apenas nas do MPL há “infiltrados” black blocs e violência.

Publicidade

Diz também o orquestrador que black blocs são uma estética de destruir vidraças, porque é algo de somenos importância, mesmo. Não dá seu endereço, para seus alunos aplicarem o mesmo às suas vidraças. Na mesma toada, endossa que são “pacíficos”. Para o coletivismo, destruir propriedade privada alheia é paz. E dá-lhe retórica comunistossaura. Em 20 anos de protestos, ninguém mostrou a Ortellado os vídeos de black blocs jogando coquetéis molotov na PM, cercando e espancando um homem à paisana para inquirir quem é P2 (agente infiltrado) ou, digamos, o assassinato estúpido do cinegrafista Santiago Andrade.

Escorados em todo um discurso revoltado, desconhecem que a revolta é tão antiquada quanto Saturno. Bombas hormonais com frases de efeito cafonérrimas.

Em 2013, a logorreia de “repressão policial” convenceu a população por duas semanas, para logo apenas os black blocs e a violência das primeiríssimas manifestações ficarem sozinhas. Hoje, é impossível encontrar apoio ao MPL – não há uma única mensagem de apoio em suas páginas, senão de seus próprios membros.

Flavio Morgenstern, escritor, tradutor e palestrante, é autor de “Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs”.