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Muito tem sido dito sobre a falta de interesse dos jovens pela política, que essa Geração Y só quer atuar "no sofá", em redes sociais. Porém, com as manifestações de junho de 2013, nas quais milhares de jovens saíram às ruas para reivindicações diversas, uma confusão enorme surgiu em quem tentou explicar essa dinâmica: o que querem esses jovens? Eles sabem de verdade o que estão propondo? Uma explicação para esse fenômeno é quase impossível, mas é factível arriscar em uma direção que não use modelos ou estudos de ciência política, e sim um entendimento quanto ao perfil geracional e social dessa galera. Trata-se de uma geração que nasceu por volta de 1990, pós-ditadura, sem educação política escolar e altamente organizada do ponto de vista tecnológico e da coletividade.

Esses jovens, em geral, cresceram em lares sem debate político, pois, com o fim da ditadura, uma conquista gigantesca, surge, então, um vácuo de atuação política. Os pais desses jovens tinham de se preocupar com altos índices de inflação, com baixo crescimento econômico e reserva de mercado. Não sobrou muito tempo para ensinar participação, atuação ou responsabilidade política ou social. Esses genitores tinham de oferecer aos seus filhos um desenvolvimento profissional, com foco no mercado de trabalho. Uma formação política não era uma preocupação considerável e essa moçada, que hoje tem em média 25 anos, cresceu com o rótulo de "Geração Coca-Cola", como disse o mestre Renato Russo, alienada do ponto de vista político.

No início da década de 90, ao mesmo tempo em que essa geração nascia, começava a se organizar no Brasil o terceiro setor, as organizações da sociedade civil, as ONGs, sendo um ótimo instrumento de participação popular. Embora não muito organizada, essa possibilidade de atuação se deu de forma rápida, até com apoio de governos e em grande parte capitaneada por ex-ativistas políticos das décadas de 70 e 80. Esses jovens, quando adolescentes e cheios de energia transformadora, encontraram um terreno fértil para um olhar cidadão: um país com enorme desigualdade social, organizações sociais crescentes que podiam recebê-los até como voluntários, e uma certa dose de educação e informação oferecida pelos bancos escolares sobre esse setor nascente.

Junte isso tudo com a tecnologia da internet, que surgia na mesma época, inúmeros sites e campanhas digitais em que rapidamente se sabia de necessidades sociais diversas, de possibilidades de atuação diferentes, e entendemos o cenário que surge: jovens que passam a se engajar na resolução de problemas que, ao contrário de seus pais, eles entendem como parte da sua vida e do seu país, e nos quais eles terão de atuar como protagonistas.

As manifestações são o ápice desse movimento. Com partidos políticos sem ideologia clara, políticos sem fidelidade partidária, notícias sobre corrupção e impunidade na mídia, nossos jovens tiveram de usar o que havia disponível para colocar para fora sua energia de ação, indo para as ruas, gritando contra problemas sociais de todos os tipos, e não contra esse ou aquele partido.

As manifestações, mais que políticas, são atividades de cidadania. Seu resultado ainda está por ser definido, mas as percebemos como algo incessante. Nossos líderes políticos não conseguem entendê-las, muito menos acolher esses jovens, já que elas surgem com ingredientes totalmente alheios àqueles com os quais estão acostumados. O mais importante, agora, seria uma educação política, geral, escolar, de modo a dar subsídios para que essa geração transforme essa energia magnífica em uma nova política eleitoral e institucional para o Brasil.

Ademar Bueno é professor e coordenador do Laboratório de Inovação, Empreendedorismo e Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (LABies – FGV), e membro da rede de líderes Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps).

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