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Síntese do dia 2

Não foi em vão

Exerci o comando da investigação que resultou nas provas que têm servido de suporte às responsabilizações que vêm ocorrendo nas instâncias administrativa, civil e penal dos mensaleiros. Como relator da CPMI dos Correios, formada por 15 senadores e 15 deputados federais – uma das mais complexas e densas que a história do Congresso Nacional já registrou –, mantive a convicção de que tamanho era o acervo de dados comprovados que seria impossível se converter no que vulgarmente se qualifica de "pizza". Afinal, não teríamos transitado por pressões e ameaças de toda ordem e nos debruçado por 11 meses sobre a montanha de dados – mais de 20 milhões de registros bancários, 30 milhões de dados telefônicos, 11 milhões de transações em Bolsa de Valores, um caminhão de documentos, 165 audiências, mais de mil requerimentos e centenas de quebras de sigilos – para que tudo isso se nulificasse. Tínhamos – e temos – a nosso favor um aspecto inédito: a convicção da opinião pública.

De fato, há investigados declarando na imprensa, o tempo todo, sua inocência. Esquecem que a população acompanhou a produção de provas e que não se deixa enganar com tanta facilidade. Não há precedente de acompanhamento diuturno, sobremaneira pela televisão, como o que ocorreu com a CPMI dos Correios. No pouco que conseguíamos a duras penas extrair dos depoimentos, a população ia formando sua convicção.

Apesar da informação ampla, não se passava um dia em que, nos mais diversos locais, eu não fosse questionado sobre a inutilidade do esforço dispendido, pois que não se via ninguém preso, como também nenhum centavo retornava aos cofres públicos. Cabia-me, serenamente, esclarecer que uma CPI, no caso CPMI, não possui poderes para condenar ninguém: não prende, nem determina devolução de valores. Apenas investiga e apresenta o resultado de seu labor a quem tem competência para responsabilizar.

O Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão memorável a que todos assistimos, recebeu a denúncia formulada pelo procurador-geral da República contra os mensaleiros, o que significa que eles passam a responder por processo criminal. Nosso trabalho não foi em vão.

Aliás, o trabalho não foi apenas amplo, mas também inovador. Não se conhecia Relatório Parcial em CPI. Mas como não concordei em transferir para a outra CPI, a do Mensalão, as provas que já tínhamos, porque suspeitava que as arquivariam, apresentei, apesar de toda a pressão, o Relatório Parcial. Ele levou alguns deputados a renunciar ao mandato, outros a serem cassados, além de diversos diretores de estatais a serem afastados. Na seqüência, percebi que o tempo da CPMI era muito curto para aprofundar todos os assuntos que precisavam ser investigados. Decidir, então, fracionar os trabalhos criando quatro subrelatorias. Designei o deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP) para examinar os contratos; nosso paranaense Gustavo Fruet (PSDB-PR), para os assuntos financeiros; ACM Neto (DEM-BA), para os fundos de pensão; e Carlos William (PST-MG) para o IRB. Como se percebe, dividi o trabalho entre diversos partidos, para ter a maior imparcialidade possível, dando credibilidade a nosso relatório.

Quando, finalmente, apresentei o Relatório Final, cujas dificuldades para aprovação os brasileiros assistiram pela televisão, foi ele remetido à Procuradoria-Geral da República, resultando na denúncia agora acolhida pelo Supremo. Ao mesmo tempo, inúmeras ações civis públicas já tramitam, buscando a devolução de recursos que apontamos como desviados dos cofres públicos.

Aí está a confirmação de um trabalho sério, destemido, e que não foi produzido para resultar em "pizza". Por isso, tenho absoluta convicção, de que o STF condenará, sim, os mensaleiros.

Osmar Serraglio é deputado federal (PMDB-PR) e foi relator da CPMI dos Correios.

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