Em um passado não muito distante, a baixa demanda por energia era atendida satisfatoriamente por fontes naturais, a exemplo do uso de animais como meio de transporte. Contudo, após a invenção do motor a vapor, a energia se tornou uma commodity e a maneira de obtê-la vem se transformando desde então. Fato é que a demanda cria a oferta e com a energia não é diferente. Foi dessa forma que a busca por carvão explodiu no momento em que a humanidade entendeu o ganho em que as máquinas no geral trariam para todos. Esse ganho acabou se atrelando ao lado financeiro, já que o mercado de energia se tornou um business objetivando lucro, como qualquer outro mercado.
Não antagônicos, a capacidade de inovação e a capacidade de adaptação do ser humano com a novidade apresentada é superada ano após ano. O apelo da sustentabilidade ambiental (e por extensão da energia sustentável) se tornou uma variável chave no mercado de energia, mas não pode ser vista como a variável mais importante nessa equação. O caminho financeiro mais viável para a segurança energética dita o mercado, como comprova a história.
O Brasil sai na frente de outros países nesse assunto pois sua matriz energética é predominantemente verde e está cada vez mais renovável.
Em 1979, o então presidente norte-americano Jimmy Carter instalou 32 painéis solares sobre o teto da Casa Branca. Na cerimônia dedicada ao ato, Carter disse: “Nos anos 2000 este aquecedor de água atrás de mim estará aqui, fornecendo energia barata e eficiente”. Além desse gesto simbólico e de instituir o Dia do Sol, seu governo incentivou a indústria de energia sustentável com o corte de impostos. Contudo, em 1986, o presidente Ronald Reagan cancelou muitos desses incentivos fiscais e retirou todos os painéis da casa mais famosa do mundo. O gesto e as políticas de Carter sobre energia sustentável não acompanhavam as tecnologias disponíveis naquele momento e também o tema não recebia o nível de apoio popular que tem hoje em dia.
Atualmente, centenas de placas fotovoltaicas são instaladas todos os dias ao redor do mundo. O apelo popular por energia sustentável (e renovável), de fato, gerou um impacto no mercado de energia – os dados financeiros não mentem. Informações da Agência Internacional de Energia (IEA) mostram que o custo médio para a produção de energia elétrica, através de painéis solares, era de U$ 8 em 1990 e passou, em 2018, para U$ 1. Foi a evolução tecnológica que permitiu esse avanço significativo. Ou seja, mais uma vez o binômio oferta/demanda em ação. Assim, diferentes fontes de energia, antes não tão competitivas no mercado, agora estão presentes nos mais bilionários investimentos ao redor do mundo.
Por outro lado, a guerra na Ucrânia trouxe inúmeras inseguranças no mercado global e, entre elas, a insegurança energética. Com o desabastecimento de gás na Rússia, a dinâmica global de energia sofreu um choque, provocando altas nos preços e escassez de combustível em alguns lugares do mundo. Esse fenômeno acelerou certas discussões dentro da União Europeia e também dentro do governo japonês. Neste, em dezembro de 2022, foi aprovada a proposta do primeiro ministro de reverter a política sobre a geração de energia nuclear, reabrindo as usinas então fechadas, e construindo novas; já na União Europeia, em junho de 2022, o Parlamento Europeu deliberou que a partir de 2023 investimentos relacionados a gás natural e energia nuclear sejam considerados “energias verdes”. Pode-se argumentar que, na busca pela indústria de baixo carbono, a energia nuclear faz sentido; porém, para gás natural é necessário um bom volume de boa vontade.
É histórica a imagem do dirigível alemão Hindenburg que foi completamente destruído em segundos após pegar fogo. O combustível presente nele era o gás mais comentado nos dias de hoje, o gás hidrogênio (H2); ou seja, sua utilização como fonte de energia não é uma novidade. O que há de inovação é a maneira com que ele é produzido. Apesar do hidrogênio ser o elemento mais abundante do universo, o gás H2 precisa ser produzido de alguma forma e, para isso, há gasto de energia. Com o ganho tecnológico na geração de energias renováveis, a produção desse gás (que se utiliza de “fontes verdes”) começa a adquirir maior viabilidade econômica e por essa razão é apelidado de hidrogênio verde.
O Brasil sai na frente de outros países nesse assunto pois sua matriz energética é predominantemente verde e está cada vez mais renovável. Todavia, como qualquer commodity, o preço final é o que importa e este acaba sendo atingido pela variável “país” – leia-se infraestrutura, segurança jurídica entre outros pontos.
Uma coisa é certa. As tecnologias de hoje não serão as mesmas no futuro. A própria energia nuclear, atualmente gerada por fissão, poderá ser gerada por fusão no futuro. No ano passado, um laboratório nos Estados Unidos conseguir gerar energia desta forma. Entretanto, não se sabe quando, tampouco se, esse tipo de tecnologia estará disponível nas redes de energia, mas não deixa de ser uma alternativa em potencial.
O futuro da energia pode estar no “pulo do gato” na capacidade de armazenamento e transporte de energia. Essa é outra aposta que está em jogo. Enfim, as constantes transformações são inerentes ao ser humano; o limite para a inovação humana não acaba antes das capacidades materiais disponíveis.
João André Sarolli é mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Chicago.