Quem bater primeiro leva!
Há muito tempo, o pátio do colégio era palco de conflito entre grupos de meninos. A necessidade de afirmação, própria da idade, levava os contendores a formar um grande círculo, e no seu centro enfrentavam-se um de cada grupo, escolhidos pela agressividade e destemor.
Ao término da pugna, nem sempre era destacado um vencedor, mas o embate levava a discussão até a sala de aula. Os anos passaram e os briguentos foram esquecidos na memória do tempo; restaram vivos o aprendizado, a cultura e os valores transmitidos pelos professores e disseminados entre os alunos.
Entre os adultos no mundo dos nossos dias vamos encontrar muitos "meninos briguentos". Um desses esteve entre nós recentemente, o señor Chávez. Ele fala alto e em seu longo discurso colecionou frases sonoras de críticas a "tudo que está aí", sem deixar evidentemente de se utilizar dos instrumentos que o trouxeram para aqui: a gigantesca aeronave, os brilhantes automóveis e o descanso merecido do guerreiro num luxuoso hotel da cidade.
O comandante, como é conhecido, tem escolhido Mr. Bush como seu principal adversário. Não por acaso, Mr. Bush é conhecido como o imperador do norte, pois ele acredita que o mundo todo deve se render às necessidades dos seus súditos.
O comandante e o imperador dividem a arrogância e o poder. Eles se acreditam donos do destino dos povos.
Señor Chávez ou Mr. Bush? É uma falsa questão sugerida por alguns setores da sociedade brasileira. Ela é falsa porque desconhece a grandeza do país que vivemos, com suas dificuldades, desafios e recursos inesgotáveis.
Precisamos estar aptos para enfrentar problemas que são nossos; aprendendo caminhos, desenvolvendo cultura própria e construindo valores.
Sabemos que temos muitos motivos para chorar.
Derramamos lágrimas de angústia pela secas nas planícies, pelos vales inundados. Pela fome dos famintos ou pelas safras mal vendidas. Pelos burocratas incompetentes e pelos oportunistas políticos; pela corrupção, pelo capital ou pelos aventureiros exploradores dos carentes. Pela falta de justiça aos poderosos e pelo excesso de penalidade aos mais fracos.
Lágrimas de sofrimento pela nossa falta de independência ou pelo excesso de dependência. Pela fragilização do empresário, pelo desespero do desempregado ou pela angústia daqueles que ainda têm emprego.
Somos assaltados pelo medo da violência marginal, ou pelo menor desamparado. Pelos erros do passado ou pela incerteza do presente. Pelo sistema de ontem ou pela falta de um sistema para amanhã.
Também experimentamos as lágrimas da alegria, pela criatividade da nossa gente e pela candura do nosso povo. Pelo carinho da mulher ou pela graça dos filhos.
Lágrimas de esperança pelo suor do trabalhador, pela inteligência dos privilegiados. Pelos campos plantados e pelas riquezas minerais. Pelo país que ainda repousa adormecido e pela tenacidade do seu povo.
A democracia é o instrumento para a consolidação desses valores. Entre nós não há lugar para Señor Chávez ou Mr. Bush.
Tem que haver algo além deles. Ou não?
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