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O debate de opiniões num espaço democrático é salutar por permitir o livre jogo das idéias e o tempo é o melhor conselheiro para testar determinadas teses.

Há alguns anos, de fato, o debate sobre estatização e privatizações estava no auge com os economistas neoliberais atacando o Estado brasileiro pela manutenção do monopólio do petróleo, pela Petrobras, e pela permanência do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal nas mãos do Estado. Esses eram os últimos redutos não atingidos pela onda de privatizações, que começou com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), na gestão do presidente Fernando Collor e de sua ministra da Economia neoliberal Zélia Cardoso de Melo – aquela do confisco da poupança. Nos governos de Fernando Henrique Cardoso, as privatizações continuaram avançando na direção da infra-estrutura, das estradas e das telecomunicações – estas até hoje envolvidas em escândalos, operações policiais e prisões de famosos no processo de entrega ao capital privado desse importante patrimônio nacional.

Hoje, o governo federal, para se comunicar com a população, tem de pagar pelo uso do sistema privatizado, incluindo os satélites. O que os economistas neoliberais escondem é que essas privatizações foram feitas com dinheiro público, via financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Aliás, creio ser o Brasil um dos poucos países do mundo onde os capitalistas, para serem empresários, não correm risco, pois têm o Estado a financiá-los. Que história é essa de racionalidade do mercado, defendida pelos neoliberais, se continuam mantendo a defesa de um Estado que utiliza de fundos públicos tirados da educação, da saúde e da habitação para socorrer empresários, autores de crimes contra o interesse nacional?

De fato, a grande decepção dos fundadores do PT e da CUT foi a adesão do governo Lula às teses neoliberais, passando agora a privatizar estradas e aeroportos, bem dentro da tese do Estado enxuto pregado pelo Consenso de Washington, hoje já abandonado pelos seus próprios autores. Tenho absoluta certeza de que quem mudou não foram os defensores do patrimônio público em áreas estratégicas e sim o governo Lula, que para governar teve de fazer alianças com aqueles a quem criticava e, assim, se curvar aos interesses das teses neoliberais. Ainda bem que os petistas e cutistas coerentes já abandonaram o PT e a CUT.

A tese recente de que o neoliberalismo faliu encontra respaldo na realidade, a começar pelos países que deram origem às teses neoliberais e que fizeram proliferar pelos países de economias dependentes os chamados institutos liberais. Atualmente, os economistas que simpatizam com tais teses não têm mais coragem de se identificar como representantes dessas instituições.

A falência do neoliberalismo está atestada pelas recentes medidas do governo norte-americano de salvar os bancos afundados pela crise hipotecária, injetando US$ 200 bilhões para salvar determinadas instituições financeiras envolvidas nessa mais profunda crise vivida pela economia norte-americana. Outro fato que atesta a falência do neoliberalismo são as ações militares dos Estados Unidos para salvar grandes investimentos da indústria petrolífera em países do mundo árabe. Aqui no Brasil tais medidas também são adotadas com o financiamento do BNDES para grandes empresas multinacionais continuarem acumulando lucros extraordinários e fazendo remessas dos seus lucros para o exterior, sem qualquer controle.

Não consigo entender essa lógica neoliberal que defende as privatizações, mas não aceita correr nenhum risco. Ficam as empresas penduradas no financiamento público para realizar seus negócios. Também não entendo como os economistas neoliberais atacam o endividamento público se ele só beneficia as empresas e os bancos privados nacionais e internacionais, que fazem volumosas aplicações no sistema financeiro. Gostaria que alguém me explicasse essas profundas contradições.

Lafaiete Neves é doutor em Desenvolvimento Econômico pela UFPR e professor do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da UNIFAE – Centro Universitário.l.lafa@terra.com.br

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