A prática do nepotismo, tão comum aos governos de direita em nosso país, é justificada pela ideologia neoliberal que vê o Estado como uma instituição para atender aos interesses privados, dentro da lógica que tudo o que existe na face da terra é passível de apropriação privada.

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É com essa concepção que partiram para a privatização das empresas estatais e agora avançam sobre a educação pública com a implantação de taxas e dos cursos pagos nas instituições públicas de ensino superior.

A partir dessa visão, os neoliberais não vêem nenhum impedimento em nomear parentes para os cargos públicos, inclusive como defendeu Severino Cavalcanti quando presidente da Câmara Federal, ao afirmar em alto e bom tom que nomeava parentes por encontrar neles as pessoas da mais absoluta confiança. Como dizia ele, se eu não confiar em parentes em quem vou confiar? Aí está o exemplo mais claro de que os recursos públicos existem para a apropriação privada.

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Ver um defensor do pensamento de direita neoliberal com essa posição até dá para entender sob o ponto de vista filosófico, demonstra coerência.

Agora ver um homem público que se diz de esquerda com essa posição é que não dá para aceitar. A não ser que ele já tenha sido cooptado pelo pensamento de direita.

Se numa compreensão mais elementar ser de direita significa defender a manutenção da situação atual marcada por profundas desigualdades sociais e ser de esquerda significa lutar para modificar essa situação, como pode um homem de esquerda defender a existência do nepotismo que é uma criação do pensamento de direita, conservador. Não podemos aceitar a máxima dos neoliberais que não há mais ideologia, logo, não existe mais a divisão esquerda e direita.

O grande filósofo e cientista político Norberto Bobbio, defende em sua obra que esquerda e direita continuam existindo e são balizadas pela defesa da conservação da situação atual (direita) e pela mudança da situação atual (esquerda).

Essa posição é tão correta que desde a Revolução Francesa de 1789, no parlamento sentavam à direita os que queriam manter o antigo regime e à esquerda os que queriam a mudança da velha ordem. Daí a origem dos termos esquerda e direita.

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Nos parlamentos ainda hoje se sentam à direita quem é da situação e à esquerda quem é da oposição.

O que não podemos aceitar é que o parlamentar que senta à esquerda vote com a situação pela conservação do nepotismo, mesmo sabendo que a sociedade a qual eles dizem representar repudia essa prática.

O mais hilariante é ver o malabarismo dos homens ditos de esquerda para justificar o nepotismo, ao afirmarem que é um nepotismo diferente, ou seja, "um nepotismo esclarecido", pois está assentado sobre o notório saber. O mais complicado ainda é qualificar o notório saber de um parente de primeiro, segundo ou terceiro graus para ocupar função gratificada no serviço público, quando não exige nenhum critério para examinar o notório saber e a competência.

O mais cômico é buscar parecer na universidade que define notório saber a partir de resoluções de seus colegiados superiores para uma situação específica de concessão de título para quem não possui titulação acadêmica em nível de graduação ou pós-graduação, porém tem competência acadêmica por sua reconhecida produção do saber.

Querer transpor essa interpretação para justificar a designação de parentes para as funções de confiança na administração pública é no mínimo desconhecer a natureza da universidade e da administração pública.

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O mais grave é ver a subserviência de parlamentares que votam com o governo pela manutenção do nepotismo, numa política tipicamente clientelista visando a obter benesses do poder para garantir votos nas próximas eleições. Lamentável é a posição vergonhosa de parlamentares de um partido que se coloca como de esquerda se ausentarem do plenário e assim derrotarem o projeto de lei contra o nepotismo, do deputado estadual Tadeu Veneri do PT, do mesmo partido desses quatro deputados que se ausentaram do plenário.

É uma postura que trai a posição da maioria da base desse partido, que historicamente sempre combateu a utilização do Estado para atender a interesses privados. Mas parece que ultimamente tem abandonado esse princípio a partir da prática de muitos de seus quadros que ocupam relevantes funções na administração pública direta e nas empresas estatais.

Cabe à sociedade dar a resposta nas urnas nas próximas eleições, para acabar com esses falsos mandatos, por não respeitarem os legítimos mandatários do poder, os eleitores.

l.lafa@terra.com.br

Lafaiete Neves é doutor em Economia pela UFPR, professor aposentado da UFPR e professor dos Departamentos de Economia e Serviço Social da PUCPR.

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