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Desta vez, o PT e seus aliados foram discretos. A deputada Ângela Guadagnin foi preventivamente seqüestrada e o artífice da absolvição do deputado João Paulo Cunha – seu sucessor, Aldo Rebello – manteve o semblante natural: pétreo.

Os círculos palacianos afinal perceberam que é um desperdício gastar tanta energia para comemorar a preservação dos mandatos dos mensaleiros. Cada triunfo num plenário desmoralizado acaba multiplicando a indignação da sociedade. O custo é alto demais para o PT que concebeu, bancou e sustentou o esquema. Além disso, inútil: o relatório final da CPI configurou e consagrou os conceitos de mensalão e valerioduto. Brevemente produzirá jurisprudência e verbetes nos dicionários.

Alguns acólitos do governo federal perderam a compostura e como em outros surtos discricionários do passado (Inquisição e 3.º Reich) tentaram policiar a linguagem e suprimir do vocabulário jurídico-político os ilícitos que praticaram. Não conseguiram. O idioma é vivo, livre, incontrolável e inviolável.

Aqueles que se agarram à desculpa que o caixa 2 significa apenas uma simples "entrada de recursos não-contabilizados" podem regozijar-se com os mandatos preservados, mas são os autores efetivos de dois neologismos perenizados tanto na filologia como na nossa história política.

João Paulo Cunha foi presidente da Câmara durante o período mais intenso da compra de votos e consciências. Além de beneficiar-se em dinheiro vivo, introduziu o nefando Marcos Valério na vida doméstica da Câmara e contratou-o numa licitação fraudulenta para uma inédita campanha publicitária destinada a branquear a imagem suja da Casa do Povo. Isso significa que João Paulo Cunha, além de receptador, acobertou um ilícito e iludiu a sociedade brasileira. Obstruiu a justiça. Ocultou a verdade.

A manifestação coreográfica da deputada Ângela Guadagnin foi erroneamente designada pela mídia como "samba da pizza". Errado, aquilo foi a rumba da prevaricação. As novas gerações de analistas políticos desconhecem o ritmo adotado por Hollywood nos anos 40-50 quando o Caribe era o território de déspotas sorridentes e o frenesi da rumba servia para disfarçar o que se passava em suas ilhas.

A parlamentar tem todo o direito de manifestar-se verbal ou gestualmente mas não podemos esquecer que ela é a mãe do mensalão e do valerioduto quando foi prefeita de S. José dos Campos nos anos 90. Sua dança, enquanto dança, nada tem de errada. Os passos e requebros estavam corretos. Mas constituem inequívoca remissão aos processos de impeachment instaurados contra ela, produzidos pelos mesmos esquemas financeiros aplicados em Ribeirão Preto, Santo André e dos quais escapou graças aos mesmos malabarismos agora aplicados para livrar João Paulo Cunha & Cia.

O último friforó parlamentar não teve fotos ou imagens mas teve registro sonoro. As ofensas e palavrões proferidos pelo elegantíssimo Jorge Bittar contra o senador Delcídio Amaral, presidente da CPI, por ter resistido à sua tentava de virar a mesa, além de constituírem atentados ao pudor e ao decoro, escancaram a conspiração de alguns petistas para melar o trabalho da CPI.

Ao chamar o presidente da CPI de "Judas!" (naquele momento ainda sinônimo de traidor), Bittar deixou claro que o senador não obedeceu ao que fora combinado, esperava que Delcídio Amaral fizesse o jogo do PT e não o da sociedade brasileira.

Bittar não poderia imaginar que no dia seguinte um painel internacional de sábios confirmaria a autenticidade do "Evangelho Segundo Judas", onde o 13.º apóstolo finalmente livrou-se do estigma de pérfido que o acompanhou ao longo de quase dois milênios para ganhar o status de preferido, parceiro e confidente de Ioshua, o Nazareno.

Bittar não dançou, tropeçou: queria injuriar mas consagrou o presidente da CPI. Lá nas alturas quem esboçou um sorriso indulgente foi Judas Ish-Keriot, finalmente reabilitado por aqueles que buscam a verdade.

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