Graças ao apoio de um programa de caráter social, mantido por uma empresa privada, Guilherme, o garoto de 13 anos aprovado no vestibular da UFPR, poderá explorar plenamente seu enorme talento intelectual
No meio de tantas notícias tristes e inexplicáveis que permeiam os noticiários, relatos de guerras, estatísticas alarmantes sobre mortalidade infantil no Brasil e no mundo, a semana que passou também nos surpreendeu com a notícia de um garoto que, aos 13 anos, conseguiu ter acesso ao ensino superior, passando em primeiro lugar no vestibular para o curso de Química da UFPR. Trata-se do mais jovem universitário da história deste país. Seu nome, Guilherme Cardoso de Souza. Que ele é um superdotado, todos sabiam, pois seu desenvolvimento intelectual manifestou-se aos dois anos. Sua excepcionalidade intelectual foi constatada por profissionais especializados. Mas o que poucos sabiam é que este universitário menino pertence a uma família de poucos recursos financeiros, o que certamente inibiria o desenvolvimento de seu tremendo potencial por falta de um acompanhamento especializado. Talvez até pela necessidade de sobrevivência, ele seria forçado a trabalhar precocemente, como acontece a milhares de crianças e jovens brasileiros, muitos deles cuja competência jamais será descoberta. Se o talento de Guilherme não fosse revelado, certamente o Brasil estaria perdendo um excepcional talento para o seu universo profissional ou científico.
O que o Guilherme precisava, como outros milhares de crianças e jovens na mesma situação, era somente uma sublime ação traduzida pela palavra oportunidade. Felizmente ela veio quando, ainda mais menino, foi admitido no Programa Bom Aluno em 2004, aos 9 anos, e, a partir daí, teve acompanhamento profissional em todos os níveis para que fatores externos não viessem influir em seu desenvolvimento.
O Bom Aluno foi criado por uma empresa privada em 1993. Os pressupostos da empresa, inovadores e sustentáveis para a época de seu surgimento, eram e são três compromissos fundamentais: gerar lucros, também pertencer aos funcionários e estar diretamente envolvida na busca de soluções para a sociedade. Isso não ficou apenas no discurso. Tais credos foram mantidos mesmo depois que a empresa, modelo nacional e referência internacional pela sua qualidade e capacidade produtiva, foi, em 2007, selvagemente inviabilizada por estúpida decisão do governo federal. Tal medida trouxe, naquele momento, prejuízos vultosos. A crise recente os agravou. Mas o que se ouviu no momento mais crítico daquela empresa é que seus sócios e executivos fizeram um pacto de preservar o máximo possível os empregos e jamais abandonar os programas sociais.
O menino universitário Guilherme simboliza a luz da oportunidade, mas poderia ser o Cleverson, a Anielli, a Vanessa, o Charles... Poderia ser o caso da médica Siroma, do executivo e engenheiro Frozza ou do professor Nelson. Como poderia ser o caso de mais 120 universitários ou 150 crianças/jovens em cursos médios. Todos do Programa Bom Aluno. Geração maravilhosa e pronta para trabalhar nas mudanças éticas e sociais tão necessárias em nosso país.
Exemplos como o do Bom Aluno, na educação e em outras abordagens sociais, têm se desenvolvido em empresas e empresários também muito comprometidos com o futuro e a sustentabilidade. Comprometidos com mudanças.
Entretanto, a tristeza bate forte e persiste diante da atitude da grande maioria daqueles que não dão o mínimo sinal de estarem preocupados com a cruel realidade nacional. E também diante daqueles que, neste momento de reconhecida crise internacional, tomam como primeira providência o corte de programas sociais em vez de buscarem a excelência e a proficiência operacional. São empresas, empresários e executivos que não se julgam co-responsáveis pelos tristes problemas sociais que enfrentamos. Aqueles que esperam e acham que os governos terão dinheiro e competência para resolver tudo. Pobre deles. Ficaram congelados em meados do século passado. São dinossauros que logo vão desaparecer. Mais e mais empresas socialmente responsáveis de verdade, que buscam a sustentabilidade, precisam aparecer agora. Amanhã pode ser tarde.