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No governo de Bolsonaro, EUA acima de tudo

 | Marcelo Camargo/Agência Brasil
(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Na sanha de voltar às ações da política externa para priorizar relações com os Estados Unidos, o governo de Bolsonaro começa a montar uma estrutura, dentro do Ministério das Relações Exteriores, especialmente para tratar de uma agenda unilateral com o país norte-americano, que ganhou pela primeira vez um departamento próprio no Itamaraty. A medida reflete mudanças e já aponta que teremos um governo que deixa em segundo plano os países da América do Sul e a integração regional. Também perde espaço com o bloco do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), importante para o Brasil fazer crescer sua economia e ter maior participação na economia global. Além das políticas equivocadas e desconhecimento internacional, como o anúncio da mudança da embaixada de Israel de Tel Aviv para Jerusalém, abalando relações comerciais com o mundo Árabe, que já acarretou no veto da Arábia Saudita de importar carne de frango de mais de 20 frigoríficos brasileiros.

Para entender esse prejuízo, saiba que, em 2017, a balança comercial com os 22 países que formam a Liga Árabe teve superávit (exportações maiores que importações) de US$ 7,1 bilhões para o Brasil, um recorde positivo com a Liga. No mesmo ano, o comércio com Israel registrou uma balança deficitária de US$ 419 milhões.

Uma cooperação na área militar tende a tornar as forças brasileiras uma espécie de braço auxiliar dos EUA

São erros que tiram o Brasil do papel de protagonista no cenário internacional, que conquistou por meio das relações multilaterais com todos esses países. Passamos de um tempo em que o Brasil tinha voz nessas relações, que construíram um papel de destaque e liderança a partir de articulações com a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e os Brics, e estamos entrando em um tempo de subserviência diante dos EUA.

Como parte desse esforço para agradar o tio Sam, o governo brasileiro quer incluir nas suas novas propostas a isenção do visto para entrada no país para cidadãos americanos, de forma unilateral, o que colide com aplicação histórica do princípio da reciprocidade. Ou seja, o Brasil só concederia isenção de vistos para países que também concedem esse direito a cidadãos brasileiros.

Mas teremos outras preocupações, depois de recuar em janeiro sobre o uso da base de Alcântara por outros países, o governo volta a renegociar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST), para ceder a base de Alcântara, com uma série de exigências impostas pelos americanos, inclusive políticas, com fins militares, ainda não totalmente claros. Uma cooperação na área militar tende a tornar as forças brasileiras uma espécie de braço auxiliar dos EUA.

Tudo indica, ainda, que todas essas medidas terão interferências na crise venezuelana, onde o Brasil mantinha sua função de “conciliador” da região, e passar a se somar a voz de Donald Trump contra a Venezuela.

Pelo andamento dos discursos e visitas do chanceler Ernesto Araújo aos EUA e dos acordos que começam a ser desenhados, e se o governo continuar a derrubar tarifas, barreiras que ainda protegem o mercado nacional e cooperações com outros países, veremos o Mercosul enfraquecido e sem força competitiva. O Brasil continuará perdendo sua liderança e destaque entre as dez maiores forças políticas e econômicas no mundo e, internamente, teremos perdas financeiras nas nossas indústrias exportadoras, nossa produção ficará encalhada, o que pode gerar fechamento de empresas, extinção de milhares de postos de trabalho, ou seja, mais desemprego e mais recessão na nossa economia.

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